14.8.17

Há coisas que não se devem guardar nas gavetas

Já aqui contei esta história, mas num contexto e por razões diferentes.

Uma vez a tripulação de um bacalhoeiro amotinou-se contra um capitão particularmente odioso. Pegou nele e pô-lo borda fora. Mas depois hesitou - há uma velhíssima e profundíssima aversão nos homens de mar a deitar pessoas vivas ao mar (o facto de os piratas não respeitarem esta tradição é uma, se bem não a única das razões do meu ódio por eles e por toda a romantização que deles se faz hoje) - e houve ali um compasso de espera. O capitão estava a metro meio de uma água onde sobreviveria dois minutos, talvez três, os homens queriam largá-lo e não conseguiam.

Até que lhes disse: "Ou fora ou dentro, seus filhos da puta, que isto não é lugar para um homem".

Os homens puseram-no dentro, levaram um arraial de pancada do qual alguns restos ainda se devem ouvir hoje nas paragens dos Grandes Bancos e o capitão ficou conhecido, desde esse dia, por Capitão Fora-ou-dentro.

É sempre bom tirar esta história da gaveta da memória onde se acantonou e pô-la a uso.

Adenda: será contudo útil esclarecer que está indecisão à qual tenho ultimamente aludido tem raízes nobres. Não sou um gajo particularmente indeciso - há até quem me tenha chamado de impulsivo, podres (são muitos) de razão -.

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