29.10.17

Diário de Bordos - Lisboa, 29-10-2017

Hoje a missa começou fraquinho mas foi melhorando e acabou numa apoteose,  que é o único termo que define o Gonçalo quando ele está em graça, em harmonia, em linha directa para aquelas profundezas de nós que não sabem distinguir um dó de um fá mas sentem cada molécula de som desde que a Hildegarde von Bingen se lembrou de escrever o que ouvia. Ou o que queria dizer, é a mesma coisa.

De maneira viemos jantar, a "magrela" e eu ao Domingos, na rua do Poço dos Negros. O Tambarina é para mim o melhor restaurante cabo-verdeano de Lisboa, não por ser o melhor restaurante cabo-verdeano de Lisboa mas por ser o melhor restaurante cabo-verdeano do mundo; com a possível e admissível excepção de alguns restaurantes cabo-verdeanos que provavelmente existem mas eu não conheço. 

A música hoje está baixinho e o Domingos deixa-me entrar com a "magrela" (acho que vou definitivamente e para sempre adoptar este termo, obrigado Fabreu. Magrela vai perder as aspas e devemos congratular-nos por isso, uma palavra com aspas é mulata demasiado vestida, ou beata fingida).

De modo é isto: encontrei por acaso o Z. M. no Tati e - de uma forma previsível e combinada - a T. e o marido e depois vim ao Tambarina e como por acaso a música continua boa apesar de tão diferente.

Como se por acaso o acaso fosse para aqui chamado, que não é.

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Ainda por cima tive hoje uma daquelas notícias de ordem familiar que me fazem pensar que ninguém consegue falhar tudo e que de entre as coisas que esse ninguém não falhou algumas são mais vitórias do que outras.

Ou seja: qualquer dia mudo de nome e começo a chamar-me Candide.

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