21.10.17

Diário de Bordos - Palma de Mallorca, Baleares, Espanha, 21-10-2017

Há uma mistura entre a geografia, o tempo, a memória e a felicidade (ou pelo menos o bem-estar. Não exageremos). Quero dizer: há sítios em que nos sentamos num café a beber um licor de Hierbas seco e o tempo passa por nós como se fosse água mas não nos molha. Como se estivesse a chover e nós a dançar imóveis, à chuva sem chapéu e sem candeeiros, só com tempo. Tempo no sentido lato: hoje, ontem e amanhã passam-nos igualmente pela impermeável superfície que a geografia montou e à qual por falta de vocabulário adequado chamamos pele.

Palma, claro. Licor de Hierbas, Restaurante El Puente, Livraria Biblioteca de Babel, bar Antiquari. Perdi-me quando saí do El Corte Inglés, por incrível que pareça. Uma irrupção de presente nesta mistura que à partida parece de betão armado e um gajo perde-se.

Comprei muitos livros, alguns discos e um par de calças, que é o mais urgente. Em Lisboa comprarei o resto. Não é possível não viver em Palma. Já me aconteceu muitas vezes, mas cada vez que aqui venho pergunto-me como fiz.

Voltando ao princípio: um gajo senta-se num restaurante, pede uma cerveja, espera um bocadinho e de repente começam a pingar gotas de tempo e esse mesmo gajo pensa "Olha que giro! Está a chover e não me molho", assim, com pontos de exclamação e tudo. Esse gajo faz de propósito e vai à Babel comprar livros, senta-se no Antiquari para os ler - coisa que não faz devido a uma irrupção súbita de disparates - e pensa "o futuro molha muito mais do que o passado".

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As mulheres de Palma são bonitas, mas não tanto quanto as de Genève. Isto é: em Genève são todas bonitas, mesmo as feias; aqui só as bonitas o são, mas há muitas. 

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