As noites frias prestam-se a todo o tipo de exercícios, desde fazer amor numa cama cheia de edredons a beber um shot de rum num bar a caminho de casa. Também há quem tente fazer amor num jardim, coberto por camadas e camadas de roupa, ou ler um livro à lareira com um cálice de Porto na mão direita, uma manta pelos joelhos e um livro na mão esquerda. Pode deixar-se cair o livro se por acaso a mão da senhora que se ama afasta a manta e aproxima os lábios pelas coxas acima até se abrirem e quase engolirem o membro que agora corresponde cortesmente à solicitação inesperada.
Digamos inesperada, mas poderia não o ser, claro. É plausível que a personagem masculina desta história tenha planeado a cena e estivesse, enquanto lia, com a mente noutra coisa. A expectativa tem algumas vantagens sobre a surpresa; e uma desvantagem grande: a surpresa é passado. Já passou. Aconteceu. A expectativa refere-se ao futuro: virá? Que estará ela a fazer?
Forçoso porém é reconhecer que a expectativa sem ansiedade, a expectativa da qual a ansiedade se ausentou ou escondeu é superior à surpresa.
Temos assim neste momento uma senhora ajoelhada à frente de um homem que há pouco lia enquanto bebia devagar um cálice de Porto. Agora não lê. Fecha os olhos, acaricia a cabeça da mulher, tenta identificar os fluxos nervosos que lhe sobem do membro. La Logique du Vivant começa mais ou menos assim, não é? Mas François Jacob era médico e a nossa personagem não. Neste momento deixa de se preocupar com a origem do prazer e concentra-se unicamente no prazer ele-mesmo, que tenta separar do amor. Estará apaixonado pela senhora? Esta - que não se vê porque está coberta pela manta, puxou-a de novo para cima deles - agarra-o pela cintura.
Passo os pormenores: já aqui escrevi um texto sobre as técnicas da felação tal como as aprendi em diversos países do mundo e parece-me óbvio que ou a senhora o leu ou já sabia o que lá descrevi. Afinal não é de ontem, a prática; nem mesmo do século passado. E de resto este post não se destinava a falar de felações, mas sim das inúmeras possibilidades das noites frias, potenciadas é certo por uma lareira, uma manta, um cálice de Porto e uma senhora apaixonada (ou pelo menos amiga).
A cena ficaria mais composta, de um ponto de vista puramente visual, se lá fora nevasse; e auditivo também, se no gira-discos (se calhar tudo isto acontece há muito tempo, antes dos CD) tocasse um álbum dos Smiths? Talvez o concerto de Colónia seja mais apropriado; não sei. A quantidade de músicas adequada a esta cena é infinita. Se fosse eu o homem sentado à lareira estaria por exemplo a ouvir Eleni Karaindrou. Music for Films, com Jan Garbarek no sax. Talvez. Não sou. Sou apenas o homem que a escreve, misturando surpresas e expectativas - passados e futuros, para ser mais exacto (o disco saiu em 1991. Há aqui uma diacronia que se resolve facilmente com um encolher de ombros) -.
- Pára - diz o homem. - Vamos para o quarto.
Eles vão; eu fico aqui a ouvir música. Não vou irromper pelo quarto dentro: o amor alheio interessa-me pouco. Sou mais sensível ao frio de uma noite, a uma lareira acesa, a um bom livro e à companhia da senhora por quem um dia estarei apaixonado.
Digamos inesperada, mas poderia não o ser, claro. É plausível que a personagem masculina desta história tenha planeado a cena e estivesse, enquanto lia, com a mente noutra coisa. A expectativa tem algumas vantagens sobre a surpresa; e uma desvantagem grande: a surpresa é passado. Já passou. Aconteceu. A expectativa refere-se ao futuro: virá? Que estará ela a fazer?
Forçoso porém é reconhecer que a expectativa sem ansiedade, a expectativa da qual a ansiedade se ausentou ou escondeu é superior à surpresa.
Temos assim neste momento uma senhora ajoelhada à frente de um homem que há pouco lia enquanto bebia devagar um cálice de Porto. Agora não lê. Fecha os olhos, acaricia a cabeça da mulher, tenta identificar os fluxos nervosos que lhe sobem do membro. La Logique du Vivant começa mais ou menos assim, não é? Mas François Jacob era médico e a nossa personagem não. Neste momento deixa de se preocupar com a origem do prazer e concentra-se unicamente no prazer ele-mesmo, que tenta separar do amor. Estará apaixonado pela senhora? Esta - que não se vê porque está coberta pela manta, puxou-a de novo para cima deles - agarra-o pela cintura.
Passo os pormenores: já aqui escrevi um texto sobre as técnicas da felação tal como as aprendi em diversos países do mundo e parece-me óbvio que ou a senhora o leu ou já sabia o que lá descrevi. Afinal não é de ontem, a prática; nem mesmo do século passado. E de resto este post não se destinava a falar de felações, mas sim das inúmeras possibilidades das noites frias, potenciadas é certo por uma lareira, uma manta, um cálice de Porto e uma senhora apaixonada (ou pelo menos amiga).
A cena ficaria mais composta, de um ponto de vista puramente visual, se lá fora nevasse; e auditivo também, se no gira-discos (se calhar tudo isto acontece há muito tempo, antes dos CD) tocasse um álbum dos Smiths? Talvez o concerto de Colónia seja mais apropriado; não sei. A quantidade de músicas adequada a esta cena é infinita. Se fosse eu o homem sentado à lareira estaria por exemplo a ouvir Eleni Karaindrou. Music for Films, com Jan Garbarek no sax. Talvez. Não sou. Sou apenas o homem que a escreve, misturando surpresas e expectativas - passados e futuros, para ser mais exacto (o disco saiu em 1991. Há aqui uma diacronia que se resolve facilmente com um encolher de ombros) -.
- Pára - diz o homem. - Vamos para o quarto.
Eles vão; eu fico aqui a ouvir música. Não vou irromper pelo quarto dentro: o amor alheio interessa-me pouco. Sou mais sensível ao frio de uma noite, a uma lareira acesa, a um bom livro e à companhia da senhora por quem um dia estarei apaixonado.
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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.