"Estroinice sentimental", diz ela. Estroinices há muitas, eu sei; todos sabemos. Mas há ele sentimentos que não sejam estróinas? Não, não há. Quem nunca disse "aquele gajo é um filho da mãe, mas é meu amigo"? Ou "A mulher é burra como um penedo, mas eu amo-a"? Que atire a primeira pedra. Os sentimentos são selvagens, são como um bêbedo numa taberna da qual o taberneiro fugiu (por amor, claro) e deixou tudo à mão. Que faz o bêbedo? Benze-se e vai-se embora? O tanas! Atira-se ao vinho e às aguardentes e às ginginhas e às cervejas quando o resto tudo estiver acabado. Pois os sentimentos são assim como a sede do bêbedo: incontroláveis. Levamos anos a tentar domesticar a amizade, o amor, a tentar civilizá-los, dar-lhes uma aparência cordata, de fato e gravata, sapatos pretos e meias a condizer com a camisa e vamos a ver parecem hippies acabados de acordar, olhos estremunhados das passas e cabelos desgrenhados dos sonhos.
Estou-me nas tintas para os sentimentos. Deixo-os fazer o que querem. Que voem como cavalos loucos ou se escondam nos buracos das rochas como rãs. Tudo, desde que me deixem em paz. De resto os meus, coitados, não podem com uma gata pelo rabo. Parecem sobreviventes de Verdun, esgazeados, rotos e famintos. Não dou um chavo por eles. Talvez um dia encontrem uma casa de repouso, vai lá saber; talvez alguém um dia lhes consiga refazer uma saúde, dar-lhes cores novas e pô-los a correr. Duvido muito, mas não é impossível. Entretanto deixo correr. Tenho a loja fechada, mas o que por aí não falta é quem os tenha a todos como novos, como se nunca tivessem sido usados ou ido à guerra.
Eu fui a muitas. Voltei delas surdo, graças a Deus. E quase cego: não vejo nada nem oiço. Não sei onde páram os meus sentimentos nem quero saber: eles que vão bater a outra porta. Pode ser que tenham sorte e encontrem quem trate deles. Ou até outros iguais: são como as mulas, gostam de andar aos pares.
Estou-me nas tintas para os sentimentos. Deixo-os fazer o que querem. Que voem como cavalos loucos ou se escondam nos buracos das rochas como rãs. Tudo, desde que me deixem em paz. De resto os meus, coitados, não podem com uma gata pelo rabo. Parecem sobreviventes de Verdun, esgazeados, rotos e famintos. Não dou um chavo por eles. Talvez um dia encontrem uma casa de repouso, vai lá saber; talvez alguém um dia lhes consiga refazer uma saúde, dar-lhes cores novas e pô-los a correr. Duvido muito, mas não é impossível. Entretanto deixo correr. Tenho a loja fechada, mas o que por aí não falta é quem os tenha a todos como novos, como se nunca tivessem sido usados ou ido à guerra.
Eu fui a muitas. Voltei delas surdo, graças a Deus. E quase cego: não vejo nada nem oiço. Não sei onde páram os meus sentimentos nem quero saber: eles que vão bater a outra porta. Pode ser que tenham sorte e encontrem quem trate deles. Ou até outros iguais: são como as mulas, gostam de andar aos pares.
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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.