22.1.18

Pergaminhos

Não conheço ninguém nesta cidade que não seja descendente de um marquês ou conde ou coisa que o valha. Eu sou: o meu Pai é o Marquês de Gargantinha e Ladantice. É um marquês a sério, não é dessa variedade Sem Dinheiro que por aí agora abunda. Já o pai dele era nobre também, não sei se marquês se conde ou talvez duque. O avô  (meu bisavô,  portanto) era carteiro numa pequena cidade de litoral. Não sei como é que a família passou de entregar cartas a dar cartas, por assim dizer. Nem me interessa, sequer. Eu podia ter um título também mas chateei-me com a família toda e mandei-os passear, a eles mai-la massa e os barões. Adaptei um título fictício - Baronete Teso - e sirvo as senhoras e os senhores num bordel chique do Bairro Alto.

Sou muito mal pago, mas tenho cama, mesa e roupa lavada. Escusado será dizer que a parte da cama é preponderante. Não há noite que não tenha um par de miúdas das boas a ajudarem-me a adormecer.

Recentemente tive um pequeno percalço: não tinha dinheiro para comprar remédios (nada de grave, que os meus leitores fiquem tranquilos). Não sabia como fazer, até que me lembrei de perguntar ao gajo da farmácia se lhe podia pagar em putas. O gajo hesitou, pensou que eu estava a mangar com ele mas lá acabou por aceder. O pior foi convencer as miúdas.

Enfim, como sempre tudo acabou por se compor. O farmacêutico fodeu, eu desfodi-me e as mulheres ficaram dispensadas de foder comigo durante uma semana.

Há dias em que prefiro viver num bordel a viver num palácio. O farmacêutico também me prefere aqui, mas as miúdas já me pediram para eu não adoecer outra vez. "Há coisas que o dinheiro não ensina", disse-me uma delas ainda a semana não tinha passado e já de volta à minha cama. "É verdade", continuou a outra do outro lado. "Mais vale um baronete teso com pergaminhos do que um farmacêutico rico com manias".

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