25.2.18

À rola do mar

Marinheiro sem eira nem beira é pleonasmo e rima pobre, pecado a dobrar. Não há casa que queira pecados destes, lastro duplo, adornados até às portas de mar, retrancas a roçar as cristas e vergas desvairadas, de antes desarvorar que rizar, pistola na mão "dou um tiro ao primeiro filho da puta que tocar numa escota".

Se morressem morriam pobres, os marinheiros. Pobres e podres, que o sal conserva mas mal: Seca e Meca percorridas o que lhes fica nas entranhas é a liberdade, que da merda livram-se toda e a liberdade corrói, a liberdade é uma prisão da qual só morto escapas e como não morres nem assim de pés para diante dela sairás.

Os marinheiros não morrem: transformam-se em vagas que um dia nas praias desfalecem, montadas por putos em pranchas de surf, a olhar-lhes para as miúdas que os esperam nas areias e a pensar nos albatrozes que viram ao largo do Boa Esperança ou do Horn, nos bordéis onde foram fodidos como putos num ginásio de Atenas, eles que durante um milésimo de segundo pensaram ser eles os seres, nem vivos nem mortos, reis do mar do vento e dos corpos, dos ventres.

Os marinheiros não morrem: entregam-se um dia em que a pistola do capitão não tenha balas e mais valha folgar do que andar à rola do mar.

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