2.3.18

Flores

"Para não dizerem que não falei de flores", diz uma canção da minha juventude. Eu falo de flores; sempre falei. Escondidas ou visíveis, a cheirar bem ou sem cheiro, amarelas brancas encarnadas ou tudo isto misturado: eu falo de flores.

É mesmo a única coisa de que sei falar, apesar de não lhes saber os nomes (tão pouco é preciso estudar medicina para apreciar um seio que se ergue, um ventre que se oferta, um olhar que agradece).

As minhas flores têm nome de mulher. Umas vivem ao sol outras à sombra, umas esperam que eu as colha outras que não; umas querem sentir-me a mão outras ver-me as costas, desanimadas curvadas vencidas.

As minhas flores têm corpos de mulher e é delas que falo, nelas que penso, por elas respiro. Sem elas não passaria de um canteiro de terra seca e fria, amarela a cair para o ocre infértil.

Com as minhas flores farei um dia uma coroa e com ela coroarei uma deusa, a que me espera.

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