2.3.18

Cinco, o drama

Tudo começou com duas coisas muito próximas: a ausência de adjetivos numa frase - os adjectivos são os novos proscritos - e o amor do vinho pela ânfora que o recebe.

Quanto aos adjectivos é fácil: basta deixá-los no armazém, não os ir buscar a menos que eles implorem, chorem, ameacem matar-se ou, claro, diluir-se no vinho.

Vinho esse que está em ânforas - esguias e pontiagudas, elegantes e generosas mas anacrónicas -. O problema do vinho e das ânforas é de tempo, como se sabe: o vinho chega e aconchega-se no confortável seio da anfitriã, que o recebe por assim dizer de braços e boca abertos (para não dizer escancarados, seria deselegante) mas não pensa senão em sair dali e ir para o muito mais inóspito sistema digestivo de um gajo qualquer.

Uma história de amor a cair para o drama quase tragédia, como a que agora se abateu sobre os adjectivos, coitados. Eram tão úteis.

Já a nossa tragédia - ou dela faremos antes um drama? - tem três personagens, quatro se incluirmos o tempo: o amor, o vinho, a ânfora, os adjectivos e o tempo. Cinco.

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