Era do vento do deserto que falávamos. Já estive no deserto. Em muitos, até: alguns figurados e um real.
Refiro-me ao vento, não aos desertos reais ou metafóricos. Conheço-o: crescemos juntos, eu a ver navios e ele a impulsioná-los. Sei-lhe as manhas, quando finge que vai cair e ao contrário leva tudo pela frente; quando diz que vai entrar Norte e vem de Leste, sabe que é para ali que vamos; ou quando não vem de todo e nos deixa parados à espera de um par de olhos, um par de mãos, tudo liso e sem uma ruga, o fumo do cigarro a subir na vertical e o olhar perdido na falta de uma aragem que seja.
"Embaciado", diz Raúl Brandão. Fremente, digo eu: da imobilidade fazer uma fremência, um tremor, uma palpitação imperceptível e esperar que o vento volte como tu voltarás, como tudo voltará.
Imperceptivelmente: grão de areia no deserto, dia sem vento, noite sem Lua, solidão sem fim, desejo sem braços, mãos sem ventre, seios sem olhares, adubo sem terra.
Voltarás, vento.
"Embaciado", diz Raúl Brandão. Fremente, digo eu: da imobilidade fazer uma fremência, um tremor, uma palpitação imperceptível e esperar que o vento volte como tu voltarás, como tudo voltará.
Imperceptivelmente: grão de areia no deserto, dia sem vento, noite sem Lua, solidão sem fim, desejo sem braços, mãos sem ventre, seios sem olhares, adubo sem terra.
Voltarás, vento.
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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.