5.5.18

Quarta carta a Pandora

Incendiaste-me outra vez a noite, mulher, com essa cabeleira ruiva tão longa e tão densa, tão longe e tão quente.

Via-te ao meu lado deitada, de costas, mãos cruzadas no ventre, cabeleira espalhada pela almofada - não as fazem suficientemente grandes para ta acolher inteira - pernas juntas, nua, quente como o rescaldo do incêndio.

Não ateies fogos que não possas apagar, pedi-te um dia; e tu em vez de os apagar todas as noites ateias um novo, diferente do de ontem e cada vez mais vasto, mais quente e profundo, dois corpos que se conhecem e se fazem de novo a cada noite e agora dormes, tão longe em mim, tão fundo, como se não fosse nada contigo.

Não ateies fogos que não podes apagar; não apagues fogos que ainda não arderam até ao fim.

P.

Sem comentários:

Enviar um comentário

Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.