6.5.18

Quinta carta a Pandora

Minha querida Pandora,

Sabes como gosto da melancolia. Ou melhor, daquela mistura tão frequente em mim de felicidade e melancolia, alegria melancólica, uma forma de matizar os sentimentos, de os complementar.

Já a tristeza detesto. Um peso invade-me sem razão visível e ofusca a beleza do dia que começa ou acaba, faz-me ver quanto me custa a tua ausência, perguntar o sentido que tem tu tão longe e eu aqui sozinho, como pedra sem caminho.

Não é por tua causa que estou triste, mas a tristeza faz-me pensar em ti. Se aqui estivesses estaria triste na mesma. Refugiar-me-ia num buraco qualquer dentro de mim, sustentaria o teu olhar crítico e esperaríamos ambos que a coisa passasse, cada um de nós agarrado ao seu livro, forma de nos deixarmos em paz que sempre preferimos aos telefones.

A melancolia enriquece, a tristeza empobrece, torna tudo igual, sem cores nem formas, sem volumes nem texturas. Fica tudo igualmente feio.

Não é assim. Digo isto e penso nessa cabeleira ruiva, capaz de incendiar um bloco de mármore: reduziria esta tristeza a um monte de cinzas que vento e luz se encarregariam alegremente de espalhar pela baía; e esta receberia de promontórios abertos como braços.

Teu Prometeu, sem fogo.

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