A ideia de que não há má cerveja a vinte cêntimos a lata é defensável. Isto é, discutível: o que não se pode defender não se pode discutir e muito menos atacar. Impõe-se portanto uma abordagem empírica da questão.
A única lata de cerveja a esse preco no supermercado Eroski chama-se Aurum, coisa que por si só me faria desconfiar. As únicas pedantices que suporto são as minhas, as dos amigos próximos, as das pessoas a quem reconheço o direito - ou o dever - de ser pedantes e mais umas poucas. Cervejas não fazem parte desse grupo.
Reconheço com agrado que a cerveja Aurum passou o teste. Não merece latinices no nome, mas pode ser vendida a vinte cêntimos sem desmerecer. Hoje bebi uma lata e usei outra para cozinhar. A carne (um primo muito afastado do chili com carne) ficou bastante boa, sem dúvida por causa da cerveja Aurum. Pelo menos parcialmente.
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Habitei hoje pela primeira vez o apartamento ao lado da Plaza Mayor. Isto é: tomei banho, dormi, cozinhei, ouvi música, olhei pela janela e sentei-me no sofá da sala.
Conduzia na autoestrada e pensava na continuidade.
Parece que tudo vem a seguir a tudo como carruagens num comboio, apesar de ter passado quase quinze anos sem conduzir - parar nos sinais encarnados, não virar onde me dá na gana, não travar de repente só porque vem um carro de uma rua à esquerda ou à direita, ver (e respeitar) os traços, não entrar numa rua de sentido proibido -. Tudo isso flui com pouquíssimos sobressaltos, como se quinze anos (salvo raríssimas excepções) fossem quinze minutos sem excepções nenhumas (enfim, poucas). Como ter uma casa minha, só para mim, sem ter de me preocupar com a água no chão da casa de banho ou se posso sair nu do quarto: oito anos, exceptuando os intervalos na Martinique e em Antigua.
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O Antiquari é o meu bar favorito. É uma mistura de Marchand de Sable, Café Tati e um café qualquer cujas empregadas sejam lésbicas, as clientes bonitas, a música porreira, a decoração soberba porque orgânica e um gajo se sinta bem mal entra e tenha dificuldade em sair porque lá fora estará pior.
Se tivesse de escolher um só dos ingredientes seria o Marchand, sem dúvida, mais dois ou três cafés de Carouge dos anos oitenta.
Daqui penso na boîte do maricas em Lubumbashi. Gosto de pessoas com tomates, sejam homens, mulheres ou uma mistura dos dois. Daqui penso no futuro.
"Não tens medo?" perguntaram-me um dia. Não, não tenho. Há quinze dias tinha menos quinze anos e ontem menos trinta.
A única lata de cerveja a esse preco no supermercado Eroski chama-se Aurum, coisa que por si só me faria desconfiar. As únicas pedantices que suporto são as minhas, as dos amigos próximos, as das pessoas a quem reconheço o direito - ou o dever - de ser pedantes e mais umas poucas. Cervejas não fazem parte desse grupo.
Reconheço com agrado que a cerveja Aurum passou o teste. Não merece latinices no nome, mas pode ser vendida a vinte cêntimos sem desmerecer. Hoje bebi uma lata e usei outra para cozinhar. A carne (um primo muito afastado do chili com carne) ficou bastante boa, sem dúvida por causa da cerveja Aurum. Pelo menos parcialmente.
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Habitei hoje pela primeira vez o apartamento ao lado da Plaza Mayor. Isto é: tomei banho, dormi, cozinhei, ouvi música, olhei pela janela e sentei-me no sofá da sala.
Conduzia na autoestrada e pensava na continuidade.
Parece que tudo vem a seguir a tudo como carruagens num comboio, apesar de ter passado quase quinze anos sem conduzir - parar nos sinais encarnados, não virar onde me dá na gana, não travar de repente só porque vem um carro de uma rua à esquerda ou à direita, ver (e respeitar) os traços, não entrar numa rua de sentido proibido -. Tudo isso flui com pouquíssimos sobressaltos, como se quinze anos (salvo raríssimas excepções) fossem quinze minutos sem excepções nenhumas (enfim, poucas). Como ter uma casa minha, só para mim, sem ter de me preocupar com a água no chão da casa de banho ou se posso sair nu do quarto: oito anos, exceptuando os intervalos na Martinique e em Antigua.
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O Antiquari é o meu bar favorito. É uma mistura de Marchand de Sable, Café Tati e um café qualquer cujas empregadas sejam lésbicas, as clientes bonitas, a música porreira, a decoração soberba porque orgânica e um gajo se sinta bem mal entra e tenha dificuldade em sair porque lá fora estará pior.
Se tivesse de escolher um só dos ingredientes seria o Marchand, sem dúvida, mais dois ou três cafés de Carouge dos anos oitenta.
Daqui penso na boîte do maricas em Lubumbashi. Gosto de pessoas com tomates, sejam homens, mulheres ou uma mistura dos dois. Daqui penso no futuro.
"Não tens medo?" perguntaram-me um dia. Não, não tenho. Há quinze dias tinha menos quinze anos e ontem menos trinta.
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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.