Z. tem duas visões do mundo que não se excluem nem se complementam: coabitam como um casal que acabou de se divorciar partilha a mesma casa por razões financeiras, logísticas ou de simples preguica.
Segundo uma dessas cosmovisões o mundo é constituído por a) o Sistema e b) Z. ele próprio. Na outra há: o Sistema, Z. e tudo o que fica entre eles. Nos dias pares das primeiras metades de cada mês Z. não vê qualquer contradição nestas duas grelhas interpretativas do real. Nos dias ímpares pensa (ou pelo menos diz) que se está nas tintas para as contradições. No resto dos dias oscila: "um espírito sem contradições é uma Lua sem luz"; "a contradição é o combustível, não o motor"; "a contradição é paralisante. Um espírito contraditório é semelhante a uma tartaruga que bebeu de mais e não consegue tirar a cabeça da protecção da casca".
Para Z., já se percebeu, o Sistema é a linguagem. Ganhar-lhe consiste simplesmente em ser capaz de produzir frases belas, quaisquer que sejam os respectivos sentidos. Deixar-se roubar, ser ultrapassado numa fila de supermercado, oferecer um café a um estranho em troca de um cigarro não são factos como nós os entendemos. São pretextos. Não são batalhas, guerras ou simplesmente escaramuças: são fisgas verbais.
Segundo uma dessas cosmovisões o mundo é constituído por a) o Sistema e b) Z. ele próprio. Na outra há: o Sistema, Z. e tudo o que fica entre eles. Nos dias pares das primeiras metades de cada mês Z. não vê qualquer contradição nestas duas grelhas interpretativas do real. Nos dias ímpares pensa (ou pelo menos diz) que se está nas tintas para as contradições. No resto dos dias oscila: "um espírito sem contradições é uma Lua sem luz"; "a contradição é o combustível, não o motor"; "a contradição é paralisante. Um espírito contraditório é semelhante a uma tartaruga que bebeu de mais e não consegue tirar a cabeça da protecção da casca".
Para Z., já se percebeu, o Sistema é a linguagem. Ganhar-lhe consiste simplesmente em ser capaz de produzir frases belas, quaisquer que sejam os respectivos sentidos. Deixar-se roubar, ser ultrapassado numa fila de supermercado, oferecer um café a um estranho em troca de um cigarro não são factos como nós os entendemos. São pretextos. Não são batalhas, guerras ou simplesmente escaramuças: são fisgas verbais.
Sem comentários:
Enviar um comentário
Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.