Mais uma história de choros: cada vez que entro na Galileu, em Cascais, desfaço-me em lágrimas, que consigo mais ou menos conter, esconder, disfarçar. Hoje pedi para me reservarem um livro, a senhora pergunta-me o nome, digo-o e ela responde "Ah, o senhor Serpa. Era tão boa pessoa! Um doce", referindo-se, claro, ao meu Pai. Tive de fingir um súbito e avassalador interesse pelos livros que me faziam virar costas ao balcão.
Há pouco menos de quarenta anos - muito pouco - resolvi que os meus conhecimentos de poesia portuguesa eram insuficientes e fui à Galileu (na altura a única livraria de Cascais) comprar livros de poesia. Comprei um monte deles, não sei quantos. Lembro-me contudo perfeitamente da conta: vinte e seis contos de réis. A senhora (que na altura ainda não sabia, mas se chama Caroline Tyssen, a quem estarei para sempre grato e reconhecido, tanto mais que à pilha sugeriu eu acrescentasse Pedro Tamen) ficou surpreendida e perguntou-me se queria pagar em duas ou três vezes. Não me conhecia; se aquela não foi a primeira vez que entrei ali terá sido a segunda ou terceira, não mais. Eu acabara de chegar da Suíça e estava a trabalhar em Aveiro, numa draga de sucção holandesa onde trabalhava setenta e duas horas por semana. Não ia frequentemente a Cascais. Disse-lhe que não, obrigado e ela insistiu. Voltei a agradecer e a dizer que não era preciso. Depois deste episódio disse ao meu Pai "a Bertrand não é a única livraria do país, contrariamente ao que tu pensas: há uma em Cascais à qual deves ir". O meu Pai - como de resto qualquer pessoa que goste de ler - passou a considerar Caroline a melhor livreira do Universo: "Não há um único livro que ela me sugira de que eu não goste, percebes?" perguntava-me frequentemente.
Percebo, Pai, percebo perfeitamente. Ainda hoje não consigo lá entrar sem pensar em ti e sem pensar na quantidade de autores que descobri graças à Caroline.
Há pouco menos de quarenta anos - muito pouco - resolvi que os meus conhecimentos de poesia portuguesa eram insuficientes e fui à Galileu (na altura a única livraria de Cascais) comprar livros de poesia. Comprei um monte deles, não sei quantos. Lembro-me contudo perfeitamente da conta: vinte e seis contos de réis. A senhora (que na altura ainda não sabia, mas se chama Caroline Tyssen, a quem estarei para sempre grato e reconhecido, tanto mais que à pilha sugeriu eu acrescentasse Pedro Tamen) ficou surpreendida e perguntou-me se queria pagar em duas ou três vezes. Não me conhecia; se aquela não foi a primeira vez que entrei ali terá sido a segunda ou terceira, não mais. Eu acabara de chegar da Suíça e estava a trabalhar em Aveiro, numa draga de sucção holandesa onde trabalhava setenta e duas horas por semana. Não ia frequentemente a Cascais. Disse-lhe que não, obrigado e ela insistiu. Voltei a agradecer e a dizer que não era preciso. Depois deste episódio disse ao meu Pai "a Bertrand não é a única livraria do país, contrariamente ao que tu pensas: há uma em Cascais à qual deves ir". O meu Pai - como de resto qualquer pessoa que goste de ler - passou a considerar Caroline a melhor livreira do Universo: "Não há um único livro que ela me sugira de que eu não goste, percebes?" perguntava-me frequentemente.
Percebo, Pai, percebo perfeitamente. Ainda hoje não consigo lá entrar sem pensar em ti e sem pensar na quantidade de autores que descobri graças à Caroline.
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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.