27.3.19

Rir, chorar, volume

Bruno anda preocupado, coitado: tem um problema por resolver e não lhe antevê solução fácil. A mulher da vida dele recusa-se terminantemente a assumir esse papel. Ora Bruno sabe que sem a mulher da vida dele nunca terá vida; e sem vida nunca terá a mulher na vida dele. Se ao menos pudesse dizer "a mulher ou a vida", como dantes se dizia da bolsa. Mas não pode. É "ou a mulher e a vida ou nada".  Bruno convive mal com dilemas por resolver e isso desinquieta-o, coitado. Que fazer? Talvez rir, não, Bruno? Sempre dá menos trabalho do que chorar e não há dilema que resista a uma boa gargalhada.

Ou então, ouve, Bruno aprende comigo que eu não viverei para sempre, ouve as tocatas de Bach pelo Glenn Gould; ou seja o que for de Bach, verás o dilema dissolver-se à tua frente e transformar-se num triângulo isósceles, dois lados iguais e um de tamanho variável, os dois variáveis sendo a vida e a vida e o outro a mulher da tua vida e tu estarás no centro desse triângulo, Bruno, a desenhá-lo todos os dias, todas as vidas. É mais ou menos isto, Bruno: um triângulo, tu e a vida e a vida e a mulher da tua vida, é vida a mais para uma mulher só, é um triângulo, uma história de amor a três, contigo a sobrevoá-la fica uma pirâmide, Bruno e é preciso dar volume às coisas.

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