23.4.19

Diário de Bordos - Palma, Mallorca, Baleares, Espanha, 23-04-2019

O dia derramou-se em mim e agora esparramo-me eu na cama, como naquelas intermináveis filas de dominós em que cada peça faz cair a seguinte. (Não fizesse eu parte da fila e seria assim; faço e não é.)

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Ver tudo a andar de novo é inebriante; imagino que as folhas sentem o mesmo quando lhes chega a primeira seiva da Primavera e sabem as flores para breve. Ou o primeiro sol a uma família de ursos hibernados. Ressurreição: a Páscoa não podia ter calhado em data mais adequada.

Estavamos a avançar ao pé coxinho. Agora, pelo menos, temos os dois pés no chão.

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Por isso chego a casa e tudo o que vejo é uma cama, uma imensa cama em pleno centro da cidade, para onde me posso atirar como se o relógio se tivesse adiantado meia dúzia de horas.

Hoje foi um dia tricotado, linha a linha. Nem me chateio com a dor de cabeça quotidiana: se um dia ela acabar (espero bem que sim) enviarei um ramo de flores gigante e uma garrafa de vinho aos senhores que fabricam Paracetamol.

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Há dias assinei um contrato com um editor. É inegavelmente bom, apesar de não ser daqueles contratos como sonhamos. Mas a casa é boa e séria, não daquelas "passa-para-cá-o-guito Editora". Pouco a pouco as coisas vão tomando forma.

Uma vida tricotada linha a linha, é o que é. Qual dia, qual quê.

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