27.4.19

Diário de Bordos - Palma, Mallorca, Baleares, Espanha, 27-04-2019 / II

Door 13: um rapazinho com voz de rapazinho (bem educado) a passar de Lou Reed para Leonard Cohen e a assassinar os dois, mas estranhamente ainda não me chateei o suficiente para me chatear. Limito-me a pensar como eram as canções originais (Walk on the Wild Side e Hallelujah) e oiço tranquilamente, sem solavancos. O escorrega funciona bem.

Funcionaria melhor se me levassse a St. Johns, nas USVI, beber Dark & Stormies bem feitos; e daí ao Soggy Dollar, em Jost van Dyke, beber Painkillers até ficar a voar como o Superman só que um bocadinho de lado e aterrar em Oakland para beber Mai Tai até me esquecer de querer voar.

O S. do Door 13 foi simpatiquíssimo, contente por me ver de novo e tudo. Não ouvi três quartos do que ele me dizia. Qualquer dia estarei surdo do ouvido direito e pergunto-me como vou lidar com isso? Dizer às pessoas que sou surdo, obrigado? (Como faço com o esquecimento dos nomes...) Não sei. Por enquanto o problema não é a surdez, é o acufeno. Mais uma ponte a atravessar quando lá chegar.

O rapazinho bem educado continua na sua "desconstrução". Bob Dylan já por lá passou. Agora é Wish You Were Here. Tem pelo menos um mérito, mas preciso de o identificar. (Não é ironia. Isto não é mau de todo. É só esquisito).

O Dark & Stormy está uma merda, mas é grande, vá lá. O gajo põe canela nisto. Canela num Dark & Stormy! Por menos do que isso pessoas morreram. Eu não morro, mas também não vôo. Bebo-o tranquilamente e penso que esse é o melhor advérbio de modo da língua portuguesa: tranquilamente.

Abençoadamente. Solitariamente. Silenciosamente. Há tantos pretendentes ao titulo.

O Alexander salvou a honra do convento. Não há natas, mas ele (o Giovani, não o outro, mais recente) substituiu-as por Baileys e a coisa funciona.

Isto é: acrescenta mais um destino ao meu vôo: o Procópio, em Lisboa, ao Jardim das Amoreiras. O barman chama-se Luís. Com o outro Luís, da falecida Casa do Largo e com o Sr. Miguel do Pavilhão Chinês integra o (meu) pódio no concurso inter-galáctico de barmen.

O rapazinho bem educado sentou-se à mesa das italianas bêbadas e chatas. Há muitos anos pensei que morrer de Sida seria uma boa forma de morrer e fiz tudo o que pude para atrair os respectivos vírus (menos injecções, claro, é coisa à qual nunca me habituei). Por uma razão qualquer aquilo não funcionou, os vírus declinaram - simpaticamente, acrescento agora - o meu convite e o exercício custou-me um número incalculável de noites com prostitutas de rua (isto é mentira. Estava em noite de choradinho. Descobri depressa que afinal o caminho para o Sida não era assim tão bom), uma noite de castidade com uma rapariga que ainda hoje deve estar a perguntar-se por que raio de carga de água a recusei, alguns dias de ansiedade quando fiz o primeiro teste (negativo. Os outros a seguir confirmaram, mas já não estava ansioso) e - sobretudo - a decisão de nunca mais voltar a deitar-me com uma mulher para a qual precise de camisa-de-Vênus. Seja ela quem for, incluindo italianas bêbedas, por bonitas que sejam.

São.

A música no Doir 13 deixou de ser ao vivo e melhorou bastante. Não me interpretem mal: o rapazinho não era mau. Era assim assim. Tem um chapéu à Neil Young. A italiana (só vejo uma. Não sei para onde foi a outra) está demasiado bêbeda para saber o que quer. Eu não estou e sei: ir para casa.

........
À saída tive direito a uma degustação de runs. Dois Mount Gay que confirmaram o que sei deles; um rum da Reunião de que não gostei, por demasiado doce; um Plantation de Barbados: fraude simples; e um Clément branco, delicioso. Esta ideia de que só os runs castanhos é que são bons devia ser revista.

Não o será tão cedo, imagino. Ainda bem.

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