Confesso que tenho hesitado entre classificar isto como prestidigitação ou milagre, mas tendo para milagre. Parece-me mais apropriado, por um lado; e como milagre é melhor do que como preestidigitação, por outro: a minha caneta Kaweco reapareceu, muito gostaria eu de saber como. Sei onde e quando; como, não.
A coisa conta-se em duas penadas, mas se não se importam conto-a em três: há um café em Palma chamado La Palma à frente do qual deixo a minha bicicleta, todos os dias (é naquela zona que estaciono o carro). No La Palma faço muitas vezes a transição entre o dia e o seu fim: "inventei" uma bebida (aspas porque é manifesta mentira, consiste em sumo de laranja e vodka) chamada sumo de naranja natural mejorado e acontece-me de vez em quando ali parar antes de pegar na bicicleta para regressar a "casa" (aspas porque é um manifesto exagero).
Hoje foi um desses dias: cheguei, pedi à T., a dona, uma senhora que tem a voz mais irritantemente aguda que eu já ouvi numa mulher e é simpatiquíssima um sumo de laranja melhorado e esvaziei a mochila para cima da mesa: computador, rato e seu tapete, bloco-notas. Escrevi os e-mails que tinha a escrever, telefonei os telefonemas, bebi um sumo e depois outro, escrevi um disparate ou mais, tendem a sair em grupos e venho-me embora. Isto é, arrumo a mochila para me vir embora. Pus tudo lá dentro até que a certa altura vejo-me com o estojo da caneta na mão.
Juro que foi assim mesmo: o último objecto que faltava pôr na mochila era o estojo de canetas. Não o vi quando esvaziei o saco (literal, não metaforicamente); não o vi enquanto esteve em cima da mesa comigo à frente a trabalhar; não o vi até ao momento em que de repente o vi, na mão.
Se isto não é um milagre não sei o que um milagre é.
(Com a Kaweco - a melhor caneta que até hoje me passou pelas mãos - escrevo este post no bloco-notas. Logo à noite será transcrito para o blogue, durante uma noite de insónia - mais uma, esta com a grande e discutível vantagem de ser completamente desnecessária e injustificada - enquanto bebo rum Almirante, um atrai-sono melhor do que muitos outros mas dispensa receitas e é barato. Que circunvalações, meu Deus.)
........
Hoje (ou ontem, pouco importa) esclareci dois mistérios: as simpatias do Aurélio (do quiosque Los Maños, um estabelecimento que recomendo a plenos pulmões) e a do Ismael, do café Acal, em Puerto de Andratx, há um ano o meu escritório: o Aurélio é de Huelva e o Ismael de Granada. Ver maiorquinos assim de afabilidade, cordialidade, simpatia e outras qualidades humanas andava a parecer-me estranho há muito tempo, mas agradava-me pensar que eram uma excepção à regra.
Em conversa, a U. pergunta-me:
- ¿Pero tu tienes la certeza que quieres pelearte con un cabrón de un mallorquin de Andratx que está en aquel lugar por todo menos por que sabe lo qué hace?
- Quero. Não procuro guerras mas só as evito até o isso raiar a cobardia. Aí entro.
Não é que não tenha medo. Só os imbecis não o têm. Mas não sei viver com medos não resolvidos, seja para que lado for.
.........
Agora é resistir à tentação do óptimo, inimigo do bom; e à da soberba, inimiga de uma salutar e ligeira pedantice.
A coisa conta-se em duas penadas, mas se não se importam conto-a em três: há um café em Palma chamado La Palma à frente do qual deixo a minha bicicleta, todos os dias (é naquela zona que estaciono o carro). No La Palma faço muitas vezes a transição entre o dia e o seu fim: "inventei" uma bebida (aspas porque é manifesta mentira, consiste em sumo de laranja e vodka) chamada sumo de naranja natural mejorado e acontece-me de vez em quando ali parar antes de pegar na bicicleta para regressar a "casa" (aspas porque é um manifesto exagero).
Hoje foi um desses dias: cheguei, pedi à T., a dona, uma senhora que tem a voz mais irritantemente aguda que eu já ouvi numa mulher e é simpatiquíssima um sumo de laranja melhorado e esvaziei a mochila para cima da mesa: computador, rato e seu tapete, bloco-notas. Escrevi os e-mails que tinha a escrever, telefonei os telefonemas, bebi um sumo e depois outro, escrevi um disparate ou mais, tendem a sair em grupos e venho-me embora. Isto é, arrumo a mochila para me vir embora. Pus tudo lá dentro até que a certa altura vejo-me com o estojo da caneta na mão.
Juro que foi assim mesmo: o último objecto que faltava pôr na mochila era o estojo de canetas. Não o vi quando esvaziei o saco (literal, não metaforicamente); não o vi enquanto esteve em cima da mesa comigo à frente a trabalhar; não o vi até ao momento em que de repente o vi, na mão.
Se isto não é um milagre não sei o que um milagre é.
(Com a Kaweco - a melhor caneta que até hoje me passou pelas mãos - escrevo este post no bloco-notas. Logo à noite será transcrito para o blogue, durante uma noite de insónia - mais uma, esta com a grande e discutível vantagem de ser completamente desnecessária e injustificada - enquanto bebo rum Almirante, um atrai-sono melhor do que muitos outros mas dispensa receitas e é barato. Que circunvalações, meu Deus.)
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Hoje (ou ontem, pouco importa) esclareci dois mistérios: as simpatias do Aurélio (do quiosque Los Maños, um estabelecimento que recomendo a plenos pulmões) e a do Ismael, do café Acal, em Puerto de Andratx, há um ano o meu escritório: o Aurélio é de Huelva e o Ismael de Granada. Ver maiorquinos assim de afabilidade, cordialidade, simpatia e outras qualidades humanas andava a parecer-me estranho há muito tempo, mas agradava-me pensar que eram uma excepção à regra.
Em conversa, a U. pergunta-me:
- ¿Pero tu tienes la certeza que quieres pelearte con un cabrón de un mallorquin de Andratx que está en aquel lugar por todo menos por que sabe lo qué hace?
- Quero. Não procuro guerras mas só as evito até o isso raiar a cobardia. Aí entro.
Não é que não tenha medo. Só os imbecis não o têm. Mas não sei viver com medos não resolvidos, seja para que lado for.
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Agora é resistir à tentação do óptimo, inimigo do bom; e à da soberba, inimiga de uma salutar e ligeira pedantice.
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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.