L. disse-me que gostava da imagem "pendurar o silêncio "; eu também. Imagino um senhor de chapéu e gabardine chegar a casa e pôr tudo nos cabides: primeiro o chapéu, depois a gabardine e por fim o silêncio. Só nesse momento diz olá à mulher e dá um beijo aos filhos. Como se vivesse em dois mundos, o mudo e o outro. Todos vivemos, todos somos personagens de Beckett sem o saber: "Porque em mim sempre houve dois bobos, entre outros, um que não pede outra coisa senão ficar onde se encontra e outro que imagina que mais longe estaria um pouco menos mal". "Sim, acontecia-me esquecer não somente quem era, mas que era, esquecer-me de ser". (Molloy).
Mas em vez de pendurar o silêncio podemos pendurar-nos nele: passageiros de pé num metro ou no eléctrico, cada um agarrado ao seu silêncio, braço no ar, olhar curto... o eléctrico dos silêncios.
São todos, até que um dia damos um abraço e apercebemo-nos de que por engano - por engano, por acaso, golpe da sorte - estamos abraçados a uma palavra, a um verbo reflexo.
Mas em vez de pendurar o silêncio podemos pendurar-nos nele: passageiros de pé num metro ou no eléctrico, cada um agarrado ao seu silêncio, braço no ar, olhar curto... o eléctrico dos silêncios.
São todos, até que um dia damos um abraço e apercebemo-nos de que por engano - por engano, por acaso, golpe da sorte - estamos abraçados a uma palavra, a um verbo reflexo.
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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.