Não me lembro de quando me apareceu a morada Avenida da Liberdade, nº 1. Foi provavelmente nas Ilhas Virgens Britânicas, BVI para amigos e família, que têm a Imigração mais chata de todo o arco caribenho (com a esmagadora excepção das suas vizinhas USVI mas essas não são caribenhas, são norte-americanas). Sei, disso estou seguro, que foi numa ida às BVI que à chegada declarei como profissão Escritor de Viagens, Travel Writer no original, que deixou o homem a olhar para mim desconfiado. "Que livros escreveste?", perguntou-me. "Nenhum. Escrevo para jornais e revistas de viagens e tenho um blogue. Queres ver? Tens net aqui?" Estávamos num aeroporto, deixou-me entrar sem mais. É possível que Avenida da Liberdade me tenha ocorrido na mesma altura.
A verdade é que estava farto de ter de inventar moradas - nem que venha da Lua um funcionário público aceitará que um gajo não tem morada - e Avenida da Liberdade impôs-se com a evidência e a fluidez das coisas óbvias. Às vezes tentava variações: 1, Avenue de la Liberté, Paris; ou 1, Freedom Avenue, London; mas acabei por voltar sempre à Avenida da Liberdade, 1, Lisboa. Só capitais, sou um homem urbano.
Uma vez não funcionou e tiro aqui o meu chapéu ao senhor: na Horta fizeram-nos uma vistoria daquelas à séria, que meteu "canídeos" (aspas por cito: "O canídeo terminou", disse um dos guardas para o chefe da operação), mergulhadores, alguns dez gajos a bordo. No fim o sr. Nâo-me-lembro-do-nome-e-se-lembrasse-não-o-diria", "Inspector (?) da Polícia Judiciária (?)" pergunta-me os dados. Quando chego à morada digo "Avenida da Liberdade, nº 1" e o homem diz-me "Isso não pode ser, ninguém mora nessa morada". Ainda tentei dizer-lhe que era lá que ia buscar o correio, mas o homem não foi na história. Tive de inventar outra morada qualquer.
A verdade é que interiorizei da tal forma o endereço que já me sai automaticamente. Uma coisa que começou por preguiça tornou-se bastante prática e benéfica. Por exemplo, tive três multas de trânsito enquanto aluguei o carro ao M. (e uma agora já com o E.) Se alguém por acaso nessa morada vir chegar correspondência da Guardia Civil espanhola (ou lá o que for) agradeço que lhe dê o devido destino. Nem sequer é preciso separar, não sou muito de rituais religiosos.
A verdade é que estava farto de ter de inventar moradas - nem que venha da Lua um funcionário público aceitará que um gajo não tem morada - e Avenida da Liberdade impôs-se com a evidência e a fluidez das coisas óbvias. Às vezes tentava variações: 1, Avenue de la Liberté, Paris; ou 1, Freedom Avenue, London; mas acabei por voltar sempre à Avenida da Liberdade, 1, Lisboa. Só capitais, sou um homem urbano.
Uma vez não funcionou e tiro aqui o meu chapéu ao senhor: na Horta fizeram-nos uma vistoria daquelas à séria, que meteu "canídeos" (aspas por cito: "O canídeo terminou", disse um dos guardas para o chefe da operação), mergulhadores, alguns dez gajos a bordo. No fim o sr. Nâo-me-lembro-do-nome-e-se-lembrasse-não-o-diria", "Inspector (?) da Polícia Judiciária (?)" pergunta-me os dados. Quando chego à morada digo "Avenida da Liberdade, nº 1" e o homem diz-me "Isso não pode ser, ninguém mora nessa morada". Ainda tentei dizer-lhe que era lá que ia buscar o correio, mas o homem não foi na história. Tive de inventar outra morada qualquer.
A verdade é que interiorizei da tal forma o endereço que já me sai automaticamente. Uma coisa que começou por preguiça tornou-se bastante prática e benéfica. Por exemplo, tive três multas de trânsito enquanto aluguei o carro ao M. (e uma agora já com o E.) Se alguém por acaso nessa morada vir chegar correspondência da Guardia Civil espanhola (ou lá o que for) agradeço que lhe dê o devido destino. Nem sequer é preciso separar, não sou muito de rituais religiosos.
delicioso... Não imaginava que criar moradas se fazia fora dos filmes!
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