18.7.19

F. joga com (e insulta) o destino, Ou: Não cedas um centímetro

F. era vagamente inseguro e por isso gostava de jogar aos dados com o destino. Digo destino para não citar o outro, o que dizia «Deus não joga aos dados com o Universo» e depois demonstrou que sim, na volta talvez jogasse, se existisse. Na história de F. não existe, isso é seguro: deixou de acreditar em Deus ao mesmo tempo que deixou de acreditar no destino: joga aos dados com ele porque sabe que vai ganhar. «Haverá de certeza quem chame batota a isto», pensa, enquanto bebe os seus últimos dólares. Está numa tasca chinesa de Nova-Iorque, numa fonda do Panamá, num restaurante guatemalteco ilegal de Miami, numa cachaceria de S. Luís do Maranhão, num bar de Manila. F. sabe que o destino tem muitos destinos, pára em todos os portos, mas não é por isso que perde. «É porque não existes», lança-lhe desafiante. Os últimos dólares de F. são assim consumidos em rum, whisky, basi, na certeza de que amanhã novos dólares lhe chegarão e noutra certeza, esta pior ainda, de que não é amanhã que deixará de jogar aos dados com o destino.

«Como de resto não será amanhã que o destino deixará de nos foder à mais pequena oportunidade. Dá-lhe um dedo e ele mata-te um amigo, o cabrão».

(In memoriam J. G., † 18/07/2019)

Never give an inch, não cedas nem um centímetro. Falsifica os dados, enche-os de rum Mount Gay, esfalfa-te na burra, enche-te de sol e de sal, faz batota mas não cedas uma polegada que seja.

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