12.8.19

Diário de Bordos - Cala Talamanca, Ibiza, Baleares, Espanha, 12-08-2019

Estou fundeado em Talamanca. Os passageiros foram para Ibiza e - previsivelmente - decidiram passar o dia lá. Uma das previsões que vi dava chuva; a outra não. A chuva ela própria não sabe a qual dar ouvidos. O dia está cinzento, os vinte e cinco - trinta nós previstos baixaram para quinze -vinte, o motor do dinghy hoje pegou lindamente (enfim, quase lindamente), o óleo do motor estava ok e o do grupo também - mas este não o vi, que está muito longe. Disse-mo o painel. Quem sabe o que é bom compra Panda. Basta ter massa, que sem ela saber é ignorância.

Comecei a escrever e a chuva apareceu, prova de que sabe muito bem o que faz. Venha ela, por aqui está tudo pronto. Também pouco havia a fazer: fechar meia dúzia de escotilhas e o painel da frente da capuchana.

Tenho quatro apps de previsão do tempo. Duas dizem que vai entrar leste durante a noite; as outras dizem que se vai manter NE. Gostaria muito que não acontecesse o que se passou com a chuva e que o E não entre, mas a verdade é que o Murphy era marinheiro, de certeza, depois de ter deixado a Celia.

Ou antes, vá lá saber-se. Seja o que for, estou a preparar planos para ou ter de sair durante a noite, ou passar um ferro à popa ou - sonhar é grátis - não ter de fazer nada disto.

A julgar pela vaga que entrou agora vou ter de me pôr a pirar. Só esperando. Seca, gostava de ir a Ibiza beber uma cerveja.

.........
Um dia passado a trabalhar, dormir, escrever (pouco, é certo; mas escrever) é um bom dia não é? A pergunta não é inteiramente retórica. Noventa por cento do trabalho foram tarefas que já prometi a mim mesmo mil vezes não voltaria a fazer: empandeirar cabos, pôr ordem nas mangueiras, queimar chicotes. Bolas, estou no barco mais quatro dias, já devia ser capaz de viver numa merda assim, mas não sou e agora parece-me que é tarde para aprender. Os cabos estavam uma desgraça, a arrumação só por excesso de generosidade ou falta de vocabulário se pode chamar assim. Esta porcaria destes paióis de dinghy são um fourre-tout sem qualquer espécie de lógica.

É importante, agradável e exige menos esforço navegar numa embarcação a) arrumada e b) arrumada com lógica (não pôr num paiol que abre para a popa coisas de que só se necessitam num cais, por exemplo. Não estivar um ferro suplente num paiol do cockpit se há o acima mencionado paiol para o bote. Coisas assim.)  

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