8.8.19

Diário de Bordos - Barcelona, Catalunha, Espanha, 08-08-2019

Mais de hora e meia de marcha e um trajecto ziguezagueante. Estou peganhento mas não cansado. Isto é Barcelona que se me cola à pele, a cidade é quente mas leve. Transporta-se tanto quanto me transporta. Passei por lugares dos quais me lembrava perfeitamente, por outros de que tinha uma vaga ideia, por muitos que desconhecia totalmente. Percorro-lhe as ruas tanto quanto a memória que delas tenho.

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O Xampanyet estava fechado para férias. Há uma certa nobreza em estabelecimentos do ramo da restauração que fecham para férias em Agosto, numa cidade como esta. Este indicador vale mais do que duzentas recomendações em outros tantos guias. Ao meio-dia, a Bodega Casa Quimet também estava fechada, mas essa pelo menos valeu-nos uma rica descoberta: La Taberna del Cura, na Gran de Graciá 83. Um clássico (de antigo e de classe) com menus a onze euros, serviço impecável, comida mais do que decente, decoração a condizer com o nome.

Não conheço o Xampanyet. Um brasileiro que estava ao nosso lado na Xampaneria falou-me nele porque me ouviu reclamar contra a enchente de gente. Quando voltar a Barcelona vou lá, estará aberto de certeza.

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Voltei à Tasca el Corral para jantar. Não me apetecia apanhar uma desilusão num sítio qualquer, nem procurar sugestões por aqui. Ou então, mais provável, queria simplesmente ir a um sitio em que alguém me reconhecesse, me dissesse boa noite, ¡hola! sem ser por razões comerciais.

Ao balcão estava um casal giro. Ela era alta, gorda, feia e alemã ou mais norte ainda, trinta trinta e poucos. Ele pequeno, fazia metade do volume dela, cigano, cabelos pretos retintos até aos ombros, quarentas quase cinquentas. O que me fascinou foi a expressão dele: nunca vi cara mais "especialista-em-gordas-e-feias" do que esta. Lembrei-me do A. e da história que me contou: foi acampar com um amigo e sacaram duas miúdas. A dele era feia, a do amigo bonita. Resultado: o A. comia todos os dias, o amigo só conseguiu molhar o pincel no último dia. Este cigano deve tê-lo molhado em permanência.

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Volto para Palma de ferry. Uma sugestão aos meus leitores: Trasmediterránea. A Baleària não é para tesos (pelo menos este navio).

Só espero que quando isto largar a maioria desta gente tenha camarotes, que o espaço para dormir no salão é escasso (e tresanda a comida, mas isso passa).

O preço dos camarotes pareceu-me exagerado. Se isto continua assim, é de borla.

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O P. está de novo varado. Aquilo vai avançando, quase imperceptivelmente mas avançando. Já as mudanças na marina são mais do que perceptíveis: parece-me que mudei de planeta. Se o palerma de Puerto d'Andratx soubesse quanto lhe estou grato arrepender-se-ia de me ter posto na rua. Nunca vi tanta incompetência concentrada numa pessoa só. Quando penso nele lembro-me de quando éramos putos e brincávamos com lentes para incendiar bocados de papel: o homem deve ter em cima dele uma lente que concentra os raios de incompetência do sol dos palermas.

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