Este espesso silêncio. "Sóbrio e voluptuoso", chama-lhe D., que nunca aqui esteve e acerta baseada nas minha descrição. Não devo ser muito mau a descrever as coisas que me tocam, como este silêncio sólido, espesso, parece plasticina, pastilha elástica, qualquer coisa que se possa moldar com a boca e as mãos, os olhos e os sentidos todos, no fundo. Este silêncio com o qual se pode construir castelos no ar, no mar, no futuro, em conamair street, atrás do sol posto, na quinta puñeta, no cu de Judas.
Poder não é o verbo adequado; dever é. "Fica assim: este silêncio com o qual se deve construir castelos..."
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O P. re-arrancou, desencalhou, saiu das boxes onde tem estado este tempo todo. Chama por mim, precisa de mim.
E eu dele.
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Não sei se moldamos o silêncio se é ele que nos molda. Não há lugar nenhum no mundo em que tenha esta ausência total de ruídos: mesmo no café (onde, por sinal, se fazem as melhores caipirinhas que jamais bebi fora do Brasil) estamos rodeados de silêncio, porque a origem do barulho está ao nosso lado e é facilmente identificável. Penso que só Vergílio Ferreira descreveu algo de semelhante, não por acaso no Alentejo também.
Silêncio "voluptuoso"? Talvez no fundo o silêncio seja o maior luxo e o barulho do mar uma aproximação. Talvez. Preciso tanto de mar como de Mértola.
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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.