Deslizo velozmente na minha bicicleta de cidade - tenho outra, para ir à marina - na descida para os Correos; o ar está fresco mas ainda quente. Amanhã entra badanal, mais vale aproveitar, penso. Vou enviar meia dúzia de postais. Comprei-os na Babel, onde fui beber um vermute. Aproveitei e comprei um livro, claro, isto é uma estupidez mas o livro pareceu-me irresistível, é o relato de uma infância em Marrocos. Li algumas passagens e pensei que todas as colónias eram iguais, aquilo podia ter sido escrito por mim sobre Moçambique (se eu escrevesse tão bem como o autor, um senhor chamado Miguel Sáenz). A miúda que me atendeu no Correio era nova, gira e simpática, sorridente. Nunca a vi lá, deve ser aquisição recente. Afinal o badanal vai ser menos do que previsto. No Mediterrâneo as previsões de tempo bem podiam ser feitas por economistas (é mentira, mas não faz mal. Fica sempre bem falar da imprevisibilidade do tempo no Med).
Babel, voltemos à Babel onde isto tudo começou. Aquela praça parece um canto de Paris em Palma: o Antiquari, a Babel e a boutique onde às vezes compro presentes lembram-me a Rue Daguerre em ponto pequeno, claro. Ia comprar livros à livraria L'Arbre à Lettres, este nome é um programa e depois lia-os no café Perret, comprava queijo na queijaria Daguerre e jantava no Vin des Rues, bebia copos no Bar du Voyage... O carrer d'Arabi é mais pequeno, muito mais pequeno, mas na livraria posso beber vermute, escrever postais e pensar que tenho menos saudades de Paris do que do Marin, por exemplo, o que até calha bem porque em Paris não tarda está um frio de rachar e no Marin não tarda estará uma temperatura porreira, além de que no Marin poderei navegar e em Paris não. E no Antiquari posso comer, ler os livros que comprei na Babel, beber copos ou, como faço tantas vezes, simplesmente trabalhar, quando o sinal na casa se torna insuportável de fraqueza.
Diz que vai chover a semana toda. Felizmente o convés está praticamente pronto de pintura, amanhã continua-se com o interior, se na primeira metade de Novembro não tiver o bote pronto corto os dois pulsos, os dois tornozelos e em seguida a cabeça. (Talvez só metaforicamente, mas será isso).
Gosto dos postais que escrevi, é tão raro gostar daquilo que escrevo no momento em que o faço... Normalmente preciso de esperar uns dez anos para pensar que não escrevi só merda e é sempre agradével ter essa sensação imediatamente (se bem depois acabe ao contrário: daqui a dez anos vou pensar que é uma merda). Não importa, que se lixe, daqui a dez anos terei outras coisas em que pensar e de qualquer forma os postais já não existirão.
Enfim, depois disto tudo acabo no Divino, que é o meu escritório da tarde, têm uns Mojitos óptimos por quatro euros e cinquenta cêntimos e além disso é aqui que vou fazer o primeiro jantar literário, Zen y el Arte del Mantenimiento de la Motocicleta. Encontrei hoje o músico que me faltava, já tenho leitor, o menu vai ser o que sempre pensei: hamburgers (de qualidade, claro).
Qualquer dia vou-me embora e ficarei cheio de saudades de Palma.
Babel, voltemos à Babel onde isto tudo começou. Aquela praça parece um canto de Paris em Palma: o Antiquari, a Babel e a boutique onde às vezes compro presentes lembram-me a Rue Daguerre em ponto pequeno, claro. Ia comprar livros à livraria L'Arbre à Lettres, este nome é um programa e depois lia-os no café Perret, comprava queijo na queijaria Daguerre e jantava no Vin des Rues, bebia copos no Bar du Voyage... O carrer d'Arabi é mais pequeno, muito mais pequeno, mas na livraria posso beber vermute, escrever postais e pensar que tenho menos saudades de Paris do que do Marin, por exemplo, o que até calha bem porque em Paris não tarda está um frio de rachar e no Marin não tarda estará uma temperatura porreira, além de que no Marin poderei navegar e em Paris não. E no Antiquari posso comer, ler os livros que comprei na Babel, beber copos ou, como faço tantas vezes, simplesmente trabalhar, quando o sinal na casa se torna insuportável de fraqueza.
Diz que vai chover a semana toda. Felizmente o convés está praticamente pronto de pintura, amanhã continua-se com o interior, se na primeira metade de Novembro não tiver o bote pronto corto os dois pulsos, os dois tornozelos e em seguida a cabeça. (Talvez só metaforicamente, mas será isso).
Gosto dos postais que escrevi, é tão raro gostar daquilo que escrevo no momento em que o faço... Normalmente preciso de esperar uns dez anos para pensar que não escrevi só merda e é sempre agradével ter essa sensação imediatamente (se bem depois acabe ao contrário: daqui a dez anos vou pensar que é uma merda). Não importa, que se lixe, daqui a dez anos terei outras coisas em que pensar e de qualquer forma os postais já não existirão.
Enfim, depois disto tudo acabo no Divino, que é o meu escritório da tarde, têm uns Mojitos óptimos por quatro euros e cinquenta cêntimos e além disso é aqui que vou fazer o primeiro jantar literário, Zen y el Arte del Mantenimiento de la Motocicleta. Encontrei hoje o músico que me faltava, já tenho leitor, o menu vai ser o que sempre pensei: hamburgers (de qualidade, claro).
Qualquer dia vou-me embora e ficarei cheio de saudades de Palma.
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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.