A esta hora, as ruas de Palma enchem-se de melancolia e de mulheres bonitas. O frio chegou. Ou melhor: anuncia-se. Ainda estou de calções e pólo, mas sei que não tarda estarei de mangas compridas e calças. As mulheres já se vestem, elas: estão ansiosas por mostrar as novas roupas. As folhas ainda não começaram a cair das árvores - durante o dia está calor - mas há sempre uma ou duas precoces. A agitação do Verão desapareceu. A aldeia que Palma era há vinte anos reaparece, como a cabeça de uma velhinha à janela depois de ter passado uma hora na cozinha.
Venho ao Ca na Chinchilla beber um copo de vinho e comer uma tapa de presunto. É um dos meus lugares favoritos aqui em Palma, mas a cozinheira queixa-se de que não me vê há muito tempo. Tem razão. É jovem mas não demasiado e tem cara de cozinheira. É daquelas que não engana: olha-se para ela na rua e vê-se uma senhora a trabalhar na cozinha.
O gosto do presunto continua na boca. A Chinchilla só tem coisas boas. Deve ter sido muito bonita e muito má, em nova. Má não é a palavra adequada.
Senhora, talvez. Soberana. Sabe o que é bom: vinho, presunto, empregados, decoração, cozinha... tudo é bom aqui. Imagino que escolheu a sua vida da mesma forma. Por isso gosto tanto dela.
A melancolia seduz-me sempre, mas isso é pecha velha; ou de velho. A luz cai, o calor sai, o meu espírito vai por aí fora, lento, indagante e saciado.
Depois da tapa de presunto pedi uma rodela de queijo de cabra. Uma rodela só. Angel trá-la e diz-me:
- Não sei o que te hei-de debitar por isto.
- O que tu achares que deve ser, Angel.
A conta vem e não há traço da fatia de queijo. Digo à Chinchilla que preferia ela me cobrasse aquilo, porque se não cobrar não posso voltar a pedir. Responde-me a mesma coisa: não sabe quanto. Digo-lhe "quatro euros", mas ela abana a cabeça. Muito caro. "Três? Vá, Chinchilla, fica três euros". "Não", responde. "Dois euros". Ali quem manda é ela, ponto. O queijo era esplêndido.
.........
Pouco a pouco vou desatando nós. Bem sei que parece um daqueles cabos de prestidigitador: um gajo desata um nó e aparece outro logo a seguir. Mas há que reconhecer: são cada vez mais pequenos, cada vez mais fáceis de desatar.
........
Estou cansado. Nunca me lembro de quão bons alguns cansaços são.
Venho ao Ca na Chinchilla beber um copo de vinho e comer uma tapa de presunto. É um dos meus lugares favoritos aqui em Palma, mas a cozinheira queixa-se de que não me vê há muito tempo. Tem razão. É jovem mas não demasiado e tem cara de cozinheira. É daquelas que não engana: olha-se para ela na rua e vê-se uma senhora a trabalhar na cozinha.
O gosto do presunto continua na boca. A Chinchilla só tem coisas boas. Deve ter sido muito bonita e muito má, em nova. Má não é a palavra adequada.
Senhora, talvez. Soberana. Sabe o que é bom: vinho, presunto, empregados, decoração, cozinha... tudo é bom aqui. Imagino que escolheu a sua vida da mesma forma. Por isso gosto tanto dela.
A melancolia seduz-me sempre, mas isso é pecha velha; ou de velho. A luz cai, o calor sai, o meu espírito vai por aí fora, lento, indagante e saciado.
Depois da tapa de presunto pedi uma rodela de queijo de cabra. Uma rodela só. Angel trá-la e diz-me:
- Não sei o que te hei-de debitar por isto.
- O que tu achares que deve ser, Angel.
A conta vem e não há traço da fatia de queijo. Digo à Chinchilla que preferia ela me cobrasse aquilo, porque se não cobrar não posso voltar a pedir. Responde-me a mesma coisa: não sabe quanto. Digo-lhe "quatro euros", mas ela abana a cabeça. Muito caro. "Três? Vá, Chinchilla, fica três euros". "Não", responde. "Dois euros". Ali quem manda é ela, ponto. O queijo era esplêndido.
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Pouco a pouco vou desatando nós. Bem sei que parece um daqueles cabos de prestidigitador: um gajo desata um nó e aparece outro logo a seguir. Mas há que reconhecer: são cada vez mais pequenos, cada vez mais fáceis de desatar.
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Estou cansado. Nunca me lembro de quão bons alguns cansaços são.
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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.