9.10.19

Diário de Bordos - Palma, Mallorca, Baleares, Espanha, 09-10-2019

Pouco importa, na verdade. Isto da solidão não passa de uma aparência. Ou do contrário de uma aparência: é uma gabardine que pomos dentro de nós próprios para nos proteger de uma chuva longínqua, invisível de tão longe.

Está uma senhora a cantar na televisão. Uma legenda chama-lhe The Cranberries. Suponho que seja o nome do grupo, ela não tem cara de se chamar Os Mirtilos (?) A música é agradável de se ouvir. Não percebo uma palavra do que ela canta, mas a melodia é apetecível. A senhora também, de resto, é uma daquelas mulheres com quem um gajo pode sair à rua sabendo que não vai ouvir assobios ou suportar olhares concupiscentes. A mulher impõe respeito.

Acabei a jantar no 7 Machos e hoje está cá a dona. Encomendei um burrito e ela perguntou-me:
- Para beber, vai ser uma Margarita?

É por estas e por outras que a solidão não passa de uma ilusão de óptica. Uma falta de gosto, às vezes. Uma distracção, na melhor das hipóteses.

Devia ir para casa ouvir a Ani di Franco cantar palavrões. 

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