9.2.20

Diário de Bordos - Genebra, Genebra, Suíça, 09-02-2020

Genebra. Amanhã, mais dois clássicos familiares: chilli con carne (o prato que a H. me pediu para a sua festa dos dezoito anos, já lá vão estamos à beira de dez anos) e caldo verde. Vou ao mercado de Plainpalais comprar as especiarias. Custam-me mais do que o jantar todo teria custado em Lisboa. A barreira dos preços leva sempre um momento a ser ultrapassada, de maneira vou ao stand dos portugueses beber uma Sagres e lembrar-me das bifanas. Eram sublimes e ainda o parecem, mas hoje quero usufruir do que Genebra tem de melhor: de Portugal ao Peru pode dar-se a volta ao alfabeto geográfico todo: Itália, Médio Oriente, Egipto, Oriente... Que festa para quem gosta de comer o mundo.

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Estava a ficar preocupado: dois dias seguidos de sol em Fevereiro? Frio, claro, mas luminoso, aquele azul pálido de que ao fim de uns anos de vida aqui se esquece o qualificafivo e fica simplesmente azul.

Mas hoje a meio do dia as nuvens voltaram e o velho cinzento de sempre retomou o seu lugar no céu. Vai chover a semana toda. Estatisticamente é pouco provável que volte a ver sol na semana que vou passar aqui. Em vez de me chatear, dou graças por estes dois dias.

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Venho à Brasserie Lipp beber um café. Tento não pensar-lhes no preço (passa-se com o café o que se passa com o vinho: não sei beber um número ímpar) e vejo uma mesa de tias - Champel? Cologny? - quase ao meu lado.

Não consigo impedir-me de me membrar, quanto - oh quanto - as da Versailles (e do resto de Portugal) me pareciam saídas da de um filme de Claude Chabrol. A imagem volta-me inexoravelmente ao espírito. O Maître d'O respira mais classe do que vinte burgessos de Cascais mai-los respectivos Porsches, Alfas, Hummers et al.

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Não tem nada a ver com dinheiro. Tem a ver com tempo. Ou com a interacção entre os dois.

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Da copa chega-me um animado diálogo em português. Não me apetece.

Nada me apetece senão ver os meus filhos e pôr o P. a funcionar.

Chega-me um "Foda-se!" aos ouvidos e acabo por pedir ao chefe de sala que mande calar os empregados da copa. É a primeira vez que faço isto. Pergunto-me se será a última.

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