7.3.20

Diário de Bordos - Lisboa, 07-03-2020

É Lisboa outra vez, está sol e eu continuo cansado. Nada muda, ao contrário do que dizi o outro. Nada se transforma, nada - aí ele tinha razão - se perde nem se cria. Como se o mundo fosse um eléctrico às voltas a si próprio. É o que é, mas em ponto grande... O corpo trai-me. Não descansa, não faz nada senão chatear-me: ele é o açúcar, ele é o Menières, ele é as articulações, rle é os olhos. Ingrato, é o que ele é. O P. lá continua o seu caminho, montanha acima. Sísifo chegava lá acima e voltava para baixo. O P. é diferente: a cada passo que dou em direcção ao cume este afasta-se outro tanto. Estou a ser injusto: não se afasta outro tanto. Afasta-se o que eu ando para cima menos um bocadinho, microscópico. Agora temos uma data. Ao menos isso: depois dela não há cume, só há abismo.

É Lisboa, é sábado e parece que até o Sol está cansado. Páro na minha pastelaria favorita da Almirante Reis, a Continental, grande e sempre com pouquíssima gente. Os estrangeiros estão todos lá fora, claro. E eu cá dentro cansado de tudo o que ainda não fiz hoje e de tudo o que vou fazer: buscar a digitalizadora, livros, o chapéu que ontem ficou esquecido no restaurante, ir para Mértola passar o fim-de-semana. Bebo cafés atrás de cafés e a cada um fico mais cansado.

Se me apanho em Mértola amarrado a uma cadeira, feito Murphy lusitano, nem acredito.

(Até o computador está cansado. Continua.)

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