18.3.20

Diário de Bordos - Palma, Mallorca, Baleares, Espanha, 18-03-2020

Encaro isto como uma travessia em solitário, com um bónus: posso desembarcar de vez em quando. Por pouco tempo, é certo - hoje já se tem de guardar os talões das compras porque a polícia pode pedi-los - mas posso desembarcar, passear a burra (queixou-se do pouco. Disse-lhe que amanhã haverá mais), comprar fruta e pensar que é melhor deixar o tinto para amanhã, não vá a garrafa partir-se ao chegar a casa.

É como estar parado sem vento e dar um mergulho ou dois, com a diferença de que esta paragem vai durar mais de um mês. Vai durar a travessia toda.

...........
A casa está praticamente arrumada. Penso que tenho muitas coisas, mas vamos a ver e não são assim tantas. Continuam é a ser demais, mas isso é outra história.

...........
Com a ajuda pontual da A. (a quem dedico este post, cheio de sentimento e saudade) ando a ver se consigo controlar-me e calar-me no Facebook. Não é fácil, mas já estive mais longe.

.........
Foi decretado o estado de emergência em Portugal, medida que contesto tudo o que posso (posso contestar muito. Não serve é de nada). Não é só no Facebook que não me calo.

Mas que fazer? Vivemos há anos a ser desresponsabilizados. Já nem uma rua se pode atravessar sem ter um idiota de um semáforo a dizer-nos se podemos ou não. Os cafés vêm com avisos de que o recipiente está quente. Somos tratados como débeis mentais todos os dias "normais". Não há-de ser  em tempos como os de agora que vamos deixar de ser as crianças irresponsáveis em que nos deixámos tornar.

Quem se recusa a ir com o rebanho é apelidado de maluco, anárquico, ou - se for no Facebook - criminoso, cretino, idiota, fascista e por aí fora. Por um lado estou contente, pois já só tenho vinte anos disto, estatisticamente. Por outro triste: vinte anos é tanto tempo.

Não sou de rebanhos. Nunca fui e nunca serei. E agora tenho a vantagem de poder apresentar provas.

..........
Acredito na importância da ética, na da moral e num princípio base das duas: não faças aos outros o que não queres que te façam a ti; faz aos outros o que queres que te façam a ti. Acredito na liberdade. Não preciso do Estado nem de sindicatos, clubes, associações e o resto da corja para ser o que sou. Não é muito, mas é tudo o que sou. E não é amanhã que vou mudar.

Sem comentários:

Enviar um comentário

Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.