26.3.20

Diário de Bordos - Palma, Mallorca, Baleares, Espanha, 25-03-2020

Uma das grandes vantagens do coronavírus é que apagou por completo a estúpida da miúda sueca das notícias. Assim que de repente me ocorra talvez seja mesmo a única.

Não gosto dela e digo-o. Sou homem de amores claros e ódios honestos. Felizmente, muitos aqueles e raros estes.

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O candeeiro de cabeceira dá uma luz fraquinha, amarela acastanhada. Nunca tive luz que me desse tanta vontade de me deitar, que tanto evocasse o sono com a eficácia de um feiticeiro  índio a chamar pela chuva. Só faltam os tambores.

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A primeira etapa do meu plano de circum-navegação chegou hoje ao estreito de Magalhães. A próxima etapa é decidir se a base na Patagónia será Punta Arenas ou Ushuaia e depois começar a aprofundar.

Sempre gostei do planeamento, mas este é especial. É como fazer a corte à mulher da nossa vida.

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Nestes tempos de isolamento apercebo-me sem surpresa de quão poucas pessoas me faltam.

A surpresa é descobrir que desse grupo fazem parte algumas que pouco conheço pessoalmente.  Distanciamento social seria tirarem-me a internet. Fechado em casa? Não passa de uma terminação fraquinha.

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Apanhei uma marretada valente, vinda de quem não esperava. O dia foi difícil. Tento - e consigo - não tirar ilações, não fazer generalizações. As pessoas, tal como as coisas,  são o que são. Qualquer passo para lá desta simples constatação (passe o galicismo) é inútil.

Pensar em Nuno Júdice: "Comecei a fugir para dentro. É cada vez mais difícil deixar de fugir para dentro."

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A chuva não vem. O feiticeiro, cansado abandona a dança e vai dormir.

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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.