O Breviário do Mediterrâneo, de Predrag Matvejevich e traduzido (do francês) por Pedro Tamen sofre de dois defeitos. Um chama-se Secretos del Mediterráneo, de Lluís Ferrés Gurt; o outro são os erros de tradução no que respeita ao vocabulário náutico. São erros pequenos, de pormenor e provavelmente passarão despercebidos à maioria dos leitores. Mas há quem gostaria que o léxico náutico português não desaparecesse, arrastado pelas embarcações de recreio que têm três quartos com camas de casal e uma janela cada um e espaço para uma televisão na parede, infelizmente sem uma marreta que ensine os respectivos armadores a falar correctamente.
A essas pessoas (isto é, à maioria) o Breviário parecerá o que é: uma excelente descrição do Mediterrâneo, escrita de um ponto de vista mais histórico do que o seu involuntário concorrente, que tem um leque mais vasto de abordagens.
O Mediterrâneo é um mar que suscita ódios e paixões, ambos muito bem descritos ao longo da história. O Breviário (tal como os Secretos, aliás), pertence à segunda categoria, a das paixões.
O que só o torna mais irritante para os puristas do linguarejar náutico, que não atam ou desatam nós - fazem-nos e desfazem-nos - para quem uma abita de amarração é um pleonasmo e que ainda por cima naquele caso é um cabeço e não uma abita, distinguo só aparentemente leviano. Sendo que para entornar o caldo, o leitor francófono percebe imediatamente a origem do erro: bite d'amarrage. Em português: cabeço. (Não tendo os Secretos sido traduzidos não sofrem deste mal.)
Isto dito, os leitores farão muito bem se não ligarem a estes resmungos e comprarem a obra. É uma panorâmica histórica e geográfica do Mare Nostrum, um mar difícil de navegar, contrariamente ao que se pensa, fascinante, múltiplo, complexo, dividido em mil ilhas, mil penínsulas, mil línguas e outros tantos povos e estranhamente uno, misto, como se de uma ânfora que se tivesse partido alguém tivesse reconstituído a forma, deixando à vista as fracturas coladas.
A essas pessoas (isto é, à maioria) o Breviário parecerá o que é: uma excelente descrição do Mediterrâneo, escrita de um ponto de vista mais histórico do que o seu involuntário concorrente, que tem um leque mais vasto de abordagens.
O Mediterrâneo é um mar que suscita ódios e paixões, ambos muito bem descritos ao longo da história. O Breviário (tal como os Secretos, aliás), pertence à segunda categoria, a das paixões.
O que só o torna mais irritante para os puristas do linguarejar náutico, que não atam ou desatam nós - fazem-nos e desfazem-nos - para quem uma abita de amarração é um pleonasmo e que ainda por cima naquele caso é um cabeço e não uma abita, distinguo só aparentemente leviano. Sendo que para entornar o caldo, o leitor francófono percebe imediatamente a origem do erro: bite d'amarrage. Em português: cabeço. (Não tendo os Secretos sido traduzidos não sofrem deste mal.)
Isto dito, os leitores farão muito bem se não ligarem a estes resmungos e comprarem a obra. É uma panorâmica histórica e geográfica do Mare Nostrum, um mar difícil de navegar, contrariamente ao que se pensa, fascinante, múltiplo, complexo, dividido em mil ilhas, mil penínsulas, mil línguas e outros tantos povos e estranhamente uno, misto, como se de uma ânfora que se tivesse partido alguém tivesse reconstituído a forma, deixando à vista as fracturas coladas.
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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.