O meu livro favorito de Debord não é a Sociedade do Espectáculo (é o Panegírico, mas isso agora pouco interessa). O que interessa é a dificuldade que tenho - e se vai avolumando a cada dia - em não pensar nesse livro.
„No longer is science asked to understand the world, or to improve any part of it. It is asked instead to immediately justify everything that happens…. spectacular domination has cut down the vast tree of scientific knowledge in order to make itself a truncheon.“
„The spectacle is not a collection of images; rather, it is a social relationship between people that is mediated by images.“
Ponho em inglês porque pouca gente percebe francês e gostaria muito que este post fosse lido e compreendido por muitos. (É mentira, mas é uma mentira bonita, pode ficar. A verdade é que não me apetece perder tempo a procurar o texto francês para um post que de qualquer forma ninguém vai ler.)
Debord não foi o primeiro intelectual marxista a descobrir que o sistema soviético era uma imensa fraude, mas foi provavelmente o primeiro que o descobriu, o denunciou e se manteve marxista. Ideologicamente poucas coisas tenho em comum com ele - se bem tenha sido com os situacionistas que comecei a reflectir seriamente sobre a liberdade, a erigi-la em sistema - mas duas ou três coisas lhe reconheço: em primeiro lugar, destacado, o seu maravilhoso francês. Ler Debord é um fascínio. Tem construções com as quais não se concorda nem com as vírgulas mas cuja beleza nos deixa hipnotizados, paralisados, com falta de ar; em segundo lugar, era um visionário. A sociedade do espectáculo que ele descreve é mais verdadeira hoje do que nos anos sessenta, quando começava a despontar no horizonte; final e mais debativelmente, gosto da honestidade intelectual do senhor. Não é que concorde com ele, repito; mas quando o comparo a esquerdistas de pacotilha tipo Daniel Oliveira ou Catarina Martins (para não mencionar os mais patéticos, a classe Rui Tavares ou aquela coisa inenarrável que dá pelo nome de Marques Lopes - nunca percebi bem se é de esquerda ou simplesmente de baixo. Em França, poderia pensar-se em Mélenchon) é impossível não lhe reconhecer estrutura nas ideias e a cultura na qual se fundamentam.
A primeira das duas citações parece que foi escrita para esta crise, não é?
É.
„No longer is science asked to understand the world, or to improve any part of it. It is asked instead to immediately justify everything that happens…. spectacular domination has cut down the vast tree of scientific knowledge in order to make itself a truncheon.“
„The spectacle is not a collection of images; rather, it is a social relationship between people that is mediated by images.“
Ponho em inglês porque pouca gente percebe francês e gostaria muito que este post fosse lido e compreendido por muitos. (É mentira, mas é uma mentira bonita, pode ficar. A verdade é que não me apetece perder tempo a procurar o texto francês para um post que de qualquer forma ninguém vai ler.)
Debord não foi o primeiro intelectual marxista a descobrir que o sistema soviético era uma imensa fraude, mas foi provavelmente o primeiro que o descobriu, o denunciou e se manteve marxista. Ideologicamente poucas coisas tenho em comum com ele - se bem tenha sido com os situacionistas que comecei a reflectir seriamente sobre a liberdade, a erigi-la em sistema - mas duas ou três coisas lhe reconheço: em primeiro lugar, destacado, o seu maravilhoso francês. Ler Debord é um fascínio. Tem construções com as quais não se concorda nem com as vírgulas mas cuja beleza nos deixa hipnotizados, paralisados, com falta de ar; em segundo lugar, era um visionário. A sociedade do espectáculo que ele descreve é mais verdadeira hoje do que nos anos sessenta, quando começava a despontar no horizonte; final e mais debativelmente, gosto da honestidade intelectual do senhor. Não é que concorde com ele, repito; mas quando o comparo a esquerdistas de pacotilha tipo Daniel Oliveira ou Catarina Martins (para não mencionar os mais patéticos, a classe Rui Tavares ou aquela coisa inenarrável que dá pelo nome de Marques Lopes - nunca percebi bem se é de esquerda ou simplesmente de baixo. Em França, poderia pensar-se em Mélenchon) é impossível não lhe reconhecer estrutura nas ideias e a cultura na qual se fundamentam.
A primeira das duas citações parece que foi escrita para esta crise, não é?
É.
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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.