2.4.20

Dispersas da noite - Palma, 03-04-2020

As pessoas fecham-se em casa e para não se sentirem sozinhas dizem aos outros para se fechar também. Gostam de ser parte do rebanho; a solidão é fria, já o alemão dos bigodes e da Salomé o dizia. 

Parai o mundo, os marcianos pagam. Só gostava de perceber é o que vão fazer de tanta felicidade: baleias nos canais de Veneza, golfinhos nos lagos suíços, vacas a fazer ski de fundo no Sahara.

Ou será antes a voar? Acho que essas, a serem, vão voar baixinho, nestes próximos anos. Se calhar deviam ter ficado em casa, como os donos.

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Enfim, Palma vazia é como os livros de colorir que ainda não foram usados: é só formas vazias, sem cores. Nunca mais reclamo contra o excesso de gente nas ruas.

Salva-nos o mercado, continua aberto. Todos os dias lá vou de manhã, dou voltas e mais voltas, digo olá aos vendedores que conheço, compro-lhes qualquer coisita. Imploro a todas as alminhas do céu que aquilo não feche. É o novo ponto de encontro da cidade.

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Consegui quebrar o enguiço e escrevi um texto para a J. Amanhã revejo-o. É sobre Palma, a de antes e a que aí vem.

Agora não é nada, uma espécie de distopia, um não-lugar. Só me falta aparecer aí um bando de gajos vestidos de peles, aos guinchos, de mocas na mão e a deslocarem-se nos outros três membros: sobreviventes da última guerra nuclear.

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Vá lá. Ao menos o vinho é bom e o trabalho agradável. Podia ser pior. 

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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.