13.4.20

Refúgios

Se fizéssemos das palavras grutas? Isto é, de cada palavra un refúgio. Pega-se numa ao acaso. Pode ser um verbo, um adjectivo, um advérbio, uma preposição, um artigo definido ou indefinido. Palavras, cada uma delas uma gruta numa longa, interminável parede vertical, como as da ilha de la Gomera onde viviam os hippies tardios. Cada pessoa pode escolher um número infinito de grutas, mas não tem a exclusividade delas. Deve partilhá-las. Ter sido o primeiro a chegar não lhe dá direitos nenhuns.

Alguns refúgios são mais procurados do que outros. Amor, por exemplo. Felicidade. Estão cheios e tu detestas multidões. Tens de te afastar, encontrar um canto só para ti naquele longo corredor que entra pela rocha dentro, sem que se lhe possa vislumbrar o fim. Às vezes cruzam-se: amor e dor, sede e deserto, amanhã e pele,  pele e mão, olhar e quando.

Cada uma destas grutas é um refúgio e lá tu te encontras, quando te perdes de ti mesmo.

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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.