13.5.20

Diário de Bordos - Palma, Mallorca, Baleares, Espanha, 13-05-2020

O café d'en Coll fica na Plaza d'en Coll. A praça é pequena, só tem cafés e restaurantes, muitos dos quais pertencem ao mesmo dono. O café d'en Coll não é um desses. pertence a um músico e é, portanto, ponto de encontro de músicos de terceiro e quarto escalão, boémios de fraca extracção e outros bêbedos. Não sou um grande frequentador da praça - tem um restaurante italiano que não é mau e uma papelaria onde hoje fui comprar um bloco-notas e uma esferográfica, mas fora isso não lhe vejo grande préstimo. Porém, hoje resolvi fazer dela o meu campo de batalha pela normalidade.

Só posso dizer que acertei. São cinco e meia da tarde e numa das mesas uma mulher grita com um gajo qualquer doutra mesa. A indiferença é geral e começa no senhor que acompanha a mulher, nos tipos que acompanham a vítima e prolonga-se pelos outros clientes. A certa altura faço um ssssshhhhhiuuuu prolongado e audível, mas só os meus vizinhos me ligaram, com um sorriso e um encolher de ombros. A coisa durou talvez uns vinte minutos, meia-hora. Agora estão todos amigos, passam de mesa para mesa, fazem saúdes com os copos a tocar-se. Não oiço as conversas - já me é complicado ouvir o que me é dirigido, não preciso de me meter em conversas alheias - mas aposto que comentam a cena. O Mediterrâneo é um mar de tempestades súbitas, violentas e breves.

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A tentação seria dizer que pouco a pouco a vida regressa mas cedendo-lhe faltaria à verdade. A vida irrompeu, voltou impetuosamente, como se nada tivesse acontecido. As ruas voltaram a encher-se, pouca gente usa máscara, o afastamento das mesas é uma anedota. O vírus perdeu... Enfim, não foi o vírus que perdeu. O vírus é parte da vida e fundiu-se nela, simplesmente. Foi ao seu lugar.

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