24.5.20

Ilusão, ou Retrato de rua

A senhora falava ternamente com o cão. Explicava-lhe qualquer coisa que não percebi bem o que era. O cão também não deve ter percebido, pelo menos não dava sinal nenhum disso ou de achar relevante a voz doce, suave, quase um murmúrio da mulher, ainda jovem, talvez quarenta, quarenta e poucos,  que lhe segurava a trela e o deixava esgaravatar no canteiro.

"Se não falasse com o cão", pensei, "só lhe restariam as paredes. O efeito seria o mesmo, mas o cão permite uma certa ilusão."

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