Uma daquelas mulheres em quem Deus revela os seus dotes de artista plástico. A senhora é de tal forma escultural que lhe perdoo o marido e o filho infante e chato, passe o pleonasmo. Passa tudo: as carrinhas de entregas que me estragaram o silencio da praça, a dor de cabeça provocada pelas múltiplas bebidas que ontem escorregaran por mim dentro, a insuportável claridade do céu, tão cedo e tão azul. Suponho que Deus ande por ali a espreitar a obra. A refastelar-se na obra.
A senhora põe-se de perfil, apercebo-me de que está grávida (quatro meses, a olho) e lembro-me de que pensar me faz doer os joelhos. O céu continua azul, a carrinha foi-se embora, a família também, a empregada do café vem levantar a mesa e eu faço uma profunda e grata vénia à evolução, a Deus, à geografia, seja a quem for que me tenha povoado esta dorida manhã de tanta beleza.
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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.