15.7.20

Corpos e críticos

Todos, suponho, sabemos que a clivagem entre razão e emoção não é tão clara como Descartes pensava. António Damásio escreveu um livro sobre isso, de resto, um livro que deve ser lido por toda a gente - já foi, imagino.

Estou na Plaza Raimundo Clar, em Palma. Acabo de comer uma carbonara sublime, bebo um Amaretto di Sarono, vejo passar as miúdas (miúdas é um termo genérico que designa mulheres de todas as idades). O pesadelo de ontem está esquecido, mais ou menos obliterado pelo eficaz filtro da vontade. Não há mulheres feias nesta cidade. São todas bonitas, muito bonitas e sublimes. A repartição é equitativa (e começa nas empregadas do restaurante, aliás). Penso nos maricas e sei que sentem, perante um belo corpo masculino o que eu sinto perante estas mulheres.

É daí que me vem a associação com Damásio: percebo-os, mas não o sinto nem um minuto. É uma percepção racional, puramente racional. Não tenho rigorosamente nada contra as preferências de cada um. É-me indiferente, tanto quanto a cor da pele, o apelido ou o número de algarismos da conta bancária. Estou-me nas  tintas.

Mas porra, estas mulheres são tão lindas! O meu Pai, que de maricas tinha pouco, dizia que um belo corpo masculino é mais belo do que um seu equivalente feminino. Discordo com cada uma das células do meu organismo, coitado (do organismo, não do meu Pai). Não há no mundo visão mais bonita do que a de um belo corpo feminino desnudo, nem melhor sonho do que o de despir uma mulher bela vestida.

O resto é conversa de eunucos, intelectuais e críticos de literatura.

(Para a R., prova viva do que digo e do que penso.)

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