O bar Aduela, que à noite tem uma equipe impecável a trabalhar, tem à tarde uma colecção de trastes a quem estou infinitamente grato. Não teria vontade nenhuma de escrever, não fora tanta idiotice junta. Acabo de perguntar à empregada de mesa a que horas mudam o turno. Não me pode dizer, responde. É segredo. Isto vem, é verdade, no seguimento de um diferendo sobre a máscara (hoje) e outro sobre eu ter trazido uma garrafa de LBV Warres (de 2007, não sou especialista mas creio que é um ano bastante para lá do aceitável) ontem. A rapariga - uma sujeita provavelmente descontente consigo própria e portanto com o mundo - resolveu embicar comigo.
Queria fazer o livestream aqui mas não o vou fazer. Estará demasiado barulho e a esta não poderei nem dizer que está bom tempo. O miúdo da noite é mais simpático e vivo. E o outro, o mais velho, também. Raio da Covid vei dar cabo disto tudo. Aposto que se não fosse a máscara - as máscaras, todas, a minha e a de toda a gente - o chaço que me traz os copos de rosé estaria mais sorridente e seria menos chaço.
Não há mulheres feias, há mulheres que não querem ser bonitas. É diferente.
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A chuva continua a não chover, parafraseando os meus (dos meus pais) empregados em Moçambique. Se bem eles usassem mais vezes a positiva: «A chuva está a chover». Sobretudo em Quelimane, onde chovia a rodos.
São chuvas diferentes, eles perceberão.
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Saio do hotel e tenho a acolher-me o calor da praça, a esplanada do bar Tarrantino, a pressão no ventre (não quis ficar sozinho no quarto, malandro) e a tensão na cabeça (ditto). Bebo um fino ou dois, venho ao Aduela buscar material e motivação e volto para o Tarrantino, almoçar. É possível viajar num guardanapo, se se quiser e souber.
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Por causa desta porra deste virus vou ter de refazer uma grande parte do edífício teórico que tenho habitado ao longo destes anos. Já os putos do Aduela não: incompetentes e idiotas a trabalhar ao lado de gente que é o contrário disso sempre houve. Continuarei a vir aqui e eles a trabalhar, a corrente entre nós a não passar ou a passar, consoante as horas.
Continuarei do lado de fora da cerca, a invejar os que estão dentro e a lamentá-los, continuarei a ser feliz e triste, arrogante e humilde, a escrever disparates e a disparatar sem escrever: o edifício teórico que habitamos é bem pouca coisa.
A menos que se encha de gente, claro. Mas disso não será amanhã a véspera.
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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.