Escorregas dia e noite, às vezes mais depressa, outras quase parado. Tentas olhar para trás: não sabes para onde vais e pensas que saber de onde vens talvez ajude. O escorrega é branco, gigante, cheio de curvas. Até subidas tem e tu deves passá-las com a inércia. Olhar para trás não ajuda. Concentras-te no que te está à frente, sabendo que pouco podes fazer para o alterar. Talvez encolher-te, proteger a cabeça com os braços cruzados por cima, fechar os olhos quando a luz é intensa de mais. Vais descendo, cada vez mais vulnerável, cada vez mais fraco. Ao fundo vês um clarão muito forte, luz branca que te encandeia, não te deixa ver nada. "É melhor fechar os olhos", pensas. "Não. De pouco me servirão, depois de isto passar".
A descida acabou. Entraste na luz de olhos abertos, como um homem.
(Para a A. I., com um beijo.)
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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.