O aquecimento global é bom, sobretudo quando calha estar onde eu estou. Fui à Placette (actualmente Manor, mas só mudou há coisa de vinte anos, ninguém fixou o novo nome) e no regresso tinha de passar pela casa Trancosense e pela Coop. Enganei-me algumas cinquenta vezes, entre eléctricos errados, paragens adiadas, trajectos a pé mais longos do que o necessário. A única coisa que me aborreceu foi ter gostado dos enganos e do passeio, que me fez chegar a casa exausto. A Placette não tinha amêijoas, de maneira amanhã vamos ter caldo verde e moules marinière, em vez do caldo verde e amêijoas à Bulhão Pato que me tinha sido pedido pela jovem e adorada H.
Penso na conversa de ontem com P. M., um daqueles armadores que passaram a amigos: "quanto mais envelheço", diz, "menos gosto de Genebra". Comigo passa-se exactamente o contrário, mas pergunto-me "por quanto tempo?" A cidade é linda, calma, tem as mulheres mais bonitas do mundo, é cosmopolita e internacional e tudo mas há sempre um mas no fim. Às vezes esconde-se, outras aparece. Mas nunca se vai embora.
Enfim, não sei. Em breve estarei de regresso a Palma e verei melhor. Há coisas que só se vêem bem ao longe.
Terça ou quarta tenho uma reunião de trabalho, para uma ideia que me foi passada pela S. Se der resultado, vai permitir-me conciliar tudo: o P., Genebra, Portugal... (reticências porque sonho). O que não sonho é o gozo que antevejo em trabalhar de novo com pessoas para quem o tempo conta, que não deixam os outros pendurados em decisões que nunca mais vêm, para quem sim é sim e não é não.
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Dia lindo. Não estava tão quente quanto pensei - doze graus - mas permitiu-me ver o parque Bertrand cheio de gente, sentar-me à beira-rio com meia-garrafa de vinho e encher-me de sol. Os cafés estão fechados, as lojas "não essenciais" idem. A asneira é universal. Aqui na Suíça composta pelos idiotas que reclamam contra o federalismo (só há dois cantões fechados, os outros estão abertos e como é óbvio as pessoas deslocam-se para onde podem fazer o que querem. Outra vantagem deste sistema político, que reforça e muito o seu lugar de melhor do mundo. Pelo menos para mim (não sou o único). António Costa, aqui, nem para porteiro de um ministério seria admitido. Galamba andaria a conduzir autocarros, se tivesse sorte. O Pedro dos comboios e da TAP estaria preso, ao lado do César dos Açores. Ou então venderiam chouriços e caldo verde numa mercearia portuguesa, como a casa Trancosense, que recomendo (excepto se os contratar, claro).
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Encontrei Mount Gay na Placette, a um preço mais do que decente (para aqui). Antigamente era lá que a S. e eu fazíamos compras. Mudem os nomes, mas não mudem o resto.
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Dia 29 vão a votos duas iniciativas que têm de perder. A luta está renhida. Uma visa incluir as filiais estrangeiras das multinacionais suíças no quadro jurídico helvético; a outra, proibir os financiadores institucionais de investir em empresas que realizem mais de cinco por cento do seu volume de negócios com armamento. São problemas de quem tem a barriga cheia e não sabe que de boas intenções está o inferno cheio. O governo federal está contra, claro. À primeira apresentou uma contra-iniciativa; à outra creio que não. Porcaria da Covid afastou-me da televisão e o esquerdismo do Temps dos jornais. Só me chegam farrapos de informação. Verdade seja dita que é de costas e ao empurrão que me interesso por isto. Os "miúdos" saberão lidar com estas coisas, seja qual for o resultado.
Destas e de outras. A Suíça da planície, urbana e de esquerda ganha terreno demográfico à da montanha, mais sensata e pés na terra. Coisas vão de certeza mudar. Resta esperar que a mudança a) seja lenta e b) não chegue ao essencial.
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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.