14.11.20

Sem resposta

Desafiam-me: escreve sobre gatas. Não percebo nada de gatas, não sei de animais que caçam de noite, pela calada do silêncio, mal se lhes ouvem os passos, elásticos e flexíveis como a fisga com que te olham. Não percebo nada de nada, aliás, seja noite seja dia; com a possível excepção de silêncios. Desses percebo. Silêncios flexíveis, fluidos,  extensíveis, mantos sobre um corpo que à frente da lareira lhe absorve o calor. A lenha crepita, algures na sala uma gata olha para o fogo. Não sei o que nele vê. Do corpo sabe que pode esperar a mão que tantas vezes a acaricia. Mas do fogo? Da noite que ele apaga, do silêncio que fala com o crepitar da lenha e com a respiração compassada que do manto exala? 

Uma gata, uma lareira, um corpo vivo debaixo de um cobertor. Talvez perceba de paz, também. Talvez perceba de fogos contidos numa lareira, de corpos contidos no silêncio, de olhares mudos de tanto interrogarem o que não percebem. 

Talvez perceba de tempo: quanto mais vai durar aquele fogo? Há quanto tempo desafia o olhar da gata,  aquece o corpo que no chão respira solidão e paz, tranquilidade, noite habitada pelas chamas, por um olhar mudo que nelas embate, pela mão que espera - oy procura - uma carícia?

Não sei. Não percebo nada de perguntas sem resposta. 

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