Não tenho medo? Tenho, claro. Só os imbecis não o têm. Ser corajoso não é não recear nada. Isso é ser idiota. Ser corajoso é saber lidar com o medo, saber geri-lo: passar por cima dele quando é preciso, ceder-lhe quando é sensato. Se me disserem para ir para o mar sabendo que um ciclone se aproxima, eu não vou. Tenho medo. Se estiver no mar e um ciclone chegar, lido com ele o melhor que posso e esqueço o medo, que de nada me serve. Antes pelo contrário, só atrapalha. Aquilo que se sabe deste vírus é muito mais do que o que se desconhece: foi isso que nos permitiu fazer vacinas tão depressa. (Em contrapartida, o resultado das vacinas é desconhecido, esse sim. Pode inventar-se tudo menos tempo.)
Em relação à Covid, não tenho medo: é inútil, desnecessário, supérfluo. Já há dados suficientes pra saber que é uma doença inofensiva para a esmagadora maioria das pessoas - isto não é uma opinião, é um facto quantificável - e que o custo do pânico é de longe superior ao custo da doença. Estamos a matar moscas com um canhão: os danos colaterais são de longe superiores aos resultados.
Em contrapartida, tenho - isso sim e muito - medo do que aí vem. Das portas que estamos a abrir à ditadura (se preferirem, às restrições de liberdades); à censura - toda a gente acha normal que o Facebook, media, organismos oficiais censurem as opiniões que vão contra a corrente -; tenho medo da maldade que esta crise revelou nas pessoas - maldade que já lá estava, foi uma revelação mas só no sentido fotográfico do termo. Maldade em nome de um «bem superior»: impedimos crianças de brincar, condenamos velhos a uma solidão atroz, fazemos empresas falir, instauramos uma desconfiança insuportável na sociedade - tudo isto em nome de quê? Abrimos uma porta que não sabemos como se vai fechar e isso faz-me medo. sim, muito. Não convivo bem com a malvadez, apesar de saber perfeitamente que ela existe; vê-la instituída desta forma é aterrador. Nenhuma ditadura foi até hoje instaurada em nome do mal dos povos. São-no em nome do bem comum, não em nome do mal para todos.
Estamos a abrir portas que não sabemos onde nos levam? Mentira. Sabemos muito bem: já lá estivemos, há bem pouco tempo. A facilidade, a alegria, o alívio com que as pessoas abrem essas portas e marcham por elas dentro assusta-me. A liberdade não é um presente dos deuses. É uma conquista dos homens. Perdê-la em nome da sua velha nemésis - a segurança - já sabemos que não resulta. Tenho medo? Sim, tenho. Mas não fujo à luta, porque isso não seria ter medo. Seria ser cobarde, que é a categoria mais desprezível dos humanos.
Estamos embarcados num petroleiro que não vai mudar de rumo - primeiro porque ninguém quer e segundo porque mesmo que se quisesse é demasiado tarde: a maldade, a insensibilidade, a indiferença tornaram-se aceitáveis, porque foram sacrificadas num altar a um deus maior. Que se aceite que esse deus é maior - e não o simples resultado de uma histeria criada, manipulada, incentivada por duas ou três instituições facilmente identificáveis - a OMS, os media, os governos - é medonho. No sentido primeiro da palavra: faz medo.
Tal como, de resto, descobrir que é com «isto» que temos vindo a conviver: descobrir que o que mais prezamos na vida em sociedade está nas mãos de pessoas que não se apercebem sequer do que estão a perder. Esta troca é assimétrica: em nome de um risco praticamente nulo hoje dão aquilo que nos custou tanto conquistar ontem.
Sim, tenho medo e não tenho vergonha nenhuma de o dizer.
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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.