11.1.21

Diário de Bordos - Lisboa, 11-01-2021

A garrafa de Mei Kwei Lu com tanto entusiasmo e esperança comprada hoje à tarde continua tristemente fechada; o livro O barco farol avança muito devagar: não tenho energia para histórias violentas, por muito boa que seja a escrita. Esta é superlativamente excelente. Gosto destes estilos secos, depurados, sem rodriguinhos. Porém, vim deitar-me, cobrir-me de calor, fechar os olhos, tentar não me cansar mais do que já estou. O SNS respondeu rapidamente e já tenho o novo teste marcado, não me lembro se para quarta-feira se para quinta. Amanhã verei, mais o problema da mudança de voo, mais os problemas que não são problemas nenhuns, são simples episódios. Por mais que tente (não eu, mas alguém por mim) não consigo transformá-los, promovê-los a dramas, tragédias, acidentes termo-nucleares graves. São tantos que tive de fazer uma lista, para não me esquecer das razões por que tenho de lutar. Bem sei que... Merda, esqueçamos. Nada que não se resolva amanhã.

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Jantar bastante improvisado: porco no forno com limão e gengibre. Ficou assim assim, como tudo o mais desde que cheguei a casa e desmontei da bicicleta (na verdade foi ao contrário: primeiro desmontei).

Acho que devia tê-lo guisado numa panela. Amanhã verei. A priori gosto da combinação de limão, gengibre e coentros, mas... Pouco importa. Amanhã. 

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Este inverno vai ser frio e eu cheio de saudades da neve e de casas aquecidas. Nesta dói-me pensar quanto custará cada grau centígrado, mesmo não sendo eu a pagar. 

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Há dias vi um vídeo no Facebook de um indivíduo a tentar subir umas escadas rolantes descendentes. Levava uma embalagem e não conseguia chegar ao fim. Aquilo estava obviamente encenado mas bem feito e não perdia a comicidade. Nos dias que terminam como hoje, parece-me uma excelente metáfora da vida. Se voltar a ver aquilo, aposto que a personagem abandona a ideia de entregar a caixa e se deixa ir quietamente para baixo, para o fundo.

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"Não sei o que amanhã me trará." Not the faintest idea, mate. Excepto que não será mais do que uma pálida, esbatida continuação de hoje. Disso, estou seguro: não será amanhã a véspera do dia em que conseguirei chegar ao cimo das escadas.

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Seja como for: o período de hoje que decorreu entre a saída de casa e o regresso foi agradabilíssimo. Espero que essa meia dezena de horas não me estrague a infelicidade do resto.

Nada como uma boa dose de tristeza intacta, unspoiled, como diria o outro, o que não sabia de amanhã. Nunca soube, coitado.

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