11.1.21

O Barco Farol, de Siegfried Lenz, ed. Fragmentos, Lisboa, 1987

Comprei um livro chamado «O barco farol». Li-o há muitos anos, em francês. A primeira linha é: «Estavam fundeados e bem fundeados nos bancos...» Um tradutor (chama-se Inês Madeira de Andrade) que sabe a diferença entre «fundeado» e «ancorado» merece ser lido, agraciado, encorajado, louvado. Obrigado, Inês Madeira de Andrade, esteja V. onde estiver e seja quem for. Folheei o livro e todos os termos náuticos estão lá. É a primeira vez que vejo uma tradução portuguesa assim. Obrigado. Vou relê-lo, agora com outros olhos. Até aqui. lembrava-me vagamente de um barco-farol fundeado no Báltico, de uma atmosfera pesada, da noção de serviço. Não vou reler o livro: vou lê-lo. Começa assim:

«Estavam fundeados e bem fundeados nos bancos movediços de areia. [Já por ali naveguei. São horríveis] Há nove anos, desde a guerra, que o barco [aqui, talve tivesse preferido navio. Como no título, de resto. Mas não sou preciosista nem fundamentalista. Fique o barco] estava seguro a uma amarra comprida; era como uma colina vermelha de fogo coberta de conchas e de algas na planície do mar cinzento como ardósia - ali estava, excepto nos períodos curtos em que se encontrava no estaleiro.

...

... o feixe dos sinais intermitentes girava há nove anos sobre a baía e o mar nocturno até às ilhas que sobressaíam no horizonte, cinzentas e planas como um leme. Agora, as zonas minadas estavam limpas, a água navegável era considerada segura, e daí a quinze dias o velho barco-farol seria recolhido; era a sua última missão.» É impossível ficr indiferente a isto, não é?

É.

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