1.1.21

Nómadas, meandros e labirintos

Não há labirintos meândricos nem meandros labirínticos. Excluem-se. O destino dos labirintos está neles, é eles próprios. Um labirinto desagua em si mesmo (incluindo os que são de atravessar, mas isto não é uma aula sobre labirintos. É uma divagação sobre o tempo, sobre a geografia interior, sobre as andanças da alma e dos corpos que as têm).

Para um nómada, a vida é um labirinto. A sua  existência é uma permanente demanda pela sobrevivência: o nómada vai para onde há comida, água, trabalho. Para onde há vida. Meandros é coisa de sedentários (e sinal de sabedoria, que os há frenéticos e ofuscados, coitados). Um sedentário sage sabe que a vida é coisa lenta e curvilínea, como o amor com uma mulher bonita. O sedentário num labirinto morre; o nómada num meandro impacienta-se. 

O tempo prefere meandros ou labirintos? E a vida? A esta, é indiferente. Não tem gostos. É o que é. Não sabe sequer a diferença entre eles. Para a vida, ter-lhe calhado um nómada na rifa, um sedentário, um frenético, um linguado de Dover ou uma águia real é a mesma coisa. Já o tempo é diferente. Há que amestrá-lo, ensiná-lo, formá-lo, moldá-lo. Sem um homem nas rédeas o tempo é um cavalo louco num desfiladeiro apertado: galopa a toda a velocidade só para sair dali. Há que ensinar-lhe as virtudes do labirinto ou a beleza dos meandros. 

A alma tem geografias que a geografia desconhece.

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