29.1.21

O que não partilhámos

Escrevo-te da cama, deste calor que um dia partilhaste comigo, muitas noites, muitos anos. Deixei, como sempre, a televisão a tocar na sala - como eu, gostavas de ouvir a música nos interstícios das últimas  conversas do dia; ou do amor, antes do sono. Sempre partilhámos o calor e a música, não é? Sempre partilhámos despedidas, fossem elas do dia que acaba, de algo que terminávamos, por causa de uma viagem... E nos reencontrámos com amor debaixo destes edredons, a ouvir a música que nos chegava de longe, fraca, ao lado das ternuras que partilhávamos, do fundo da noite.

Escrevo-te da cama de onde me disseste adeus, de onde me disseste que a ternura se tinha esgotado, em ti. Foi essa a única coisa que não partilhámos: o fim da ternura. 

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