3.1.21

Silêncios, cores

Voltámos ao tempo dos silêncios. Eu digo-te nada, tu nada respondes e assim falamos dias a fio, semanas, meses. Felizmente entendemo-nos bem e sabemos o que queremos não-dizer um ao outro. Escolhemos bem as palavras que não-pronunciamos, as metáforas, eufemismos, analogias, hipérboles, litotes e por aí fora que calamos. Estamos longe um do outro, como sempre estivemos: tu no meio das tuas planícies, eu nas minhas covas.

De onde estamos, não nos vemos um ao outro, nem nos ouvimos. Os nossos silêncios falam por nós. Às vezes pintamo-los: azul, verde, amarelo, encarnado... Um silêncio azul, a resposta a violeta, as perguntas a verde, todas. Parece simples, mas não é: tens um talento especial para cores complexas, matizes que os silêncios não deixam ver bem. Gosto particularmente dos teus azuis, não sei onde os vais buscar, não conheço na natureza - nem no oceano, vê lá tu - um azul igual aos teus.

Assim, de silêncio em silêncio, de cores em cores nos vamos afastando, devagarinho, sem sequer nos apercebermos. De que cor pintarás o adeus?

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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.